Praga Urbana
Em primeiro lugar, (des)qualifiquei, algum tempo atrás, motorista de aplicativo como uma praga urbana moderna. Inicialmente, junto com outras pragas no post “Pragas Urbanas do Milênio“, sem contudo dar um grande destaque. Fui mais incisivo, em seguida, com o texto “Motoristas de Aplicativo – Pragas Urbanas“. Como se não bastasse, num dos “debates” que travei eu disse “motorista de aplicativo nem é gente…”. Sem dúvida, uma vez que eu me referia à automação a que está submetido o motorista de aplicativo de transporte, só recebi incompreensão.
Portanto, é a realidade, que a maioria não quer ver e que estudiosos estão escancarando. Aplicativo de transporte tem prestador de serviço, é um negócio pré-formatado e o motorista não altera absolutamente nada no negócio. Desse modo, a falácia de que este povo é empreendedor está longe de ter um desmascaramento público.
Desesperados e Despreparados
Em outros textos, como se não bastasse, abordei a questão sobre o despreparo geral da maioria dos que se aventuram pelo mundo do chamado empreendedorismo. Aqui neste tema, na condição de administrador percebemos a extrema falta de preparo da maioria dos desempregados. Inquestionavelmente, estas pessoas buscam a autoafirmação ou reposicionamento profissional, com a ideia de ser empreendedor.
No caso do motorista de aplicativo de transporte serve a forma pejorativa de que se não conseguiu nada para se recolocar profissionalmente. Desse modo, ele torna-se serviçal de aplicativo de transporte, dizendo-se empreendedor, à espera de retorno às suas atividades. Este profissional, submisso a um aplicativo (app para os íntimos), está sob vigilância constante. Certamente, desde antes do início até depois do fim de sua jornada de mais de 24 horas.
Não pensem que estou exagerando. Este e outros textos que construí, alguns inéditos, são fruto de um extenso laboratório com diferentes aplicativos de transporte. Em outras palavras, não somente na condição de usuário e de motorista, é necessário experimentar para dar pitaco.
Por outro lado, a classificação de MEI para quem atua com aplicativo de transporte é mais um engodo para a própria pessoa. O nível de desconhecimento, despreparo, desespero da grande maioria destes profissionais, escondem a precarização de toda atividade laboral.
Táxi x Uber x Aplicativo de Transporte
Aqui um parênteses sobre a briga entre taxista e motorista de aplicativo, indicada no texto que escrevi “A briga Táxi x Uber vai continuar“. Reafirmo que o adversário do taxista não era o motorista de aplicativo. Taxista é muito mais empreendedor pois, na maioria dos casos, arrisca capital, investimento, dificuldades com faturamento etc. O serviçal de aplicativo de entrega arrisca a própria vida por muito menos. Os taxistas passaram a usar aplicativo de transporte e nem tudo funciona como a imaginação e o desejo deles supõe.
Ilusionismo
Em suma, parece que a enganação chegou a todos. Poucos ganham razoavelmente bem depois que cativaram clientes a partir do aplicativo. Dizer que está faturando bem somente com o aplicativo de transporte é uma mentira das pesadas. A maioria mal consegue “trocar cebola” (expressão da minha terra, Minas Gerais), e ficam alimentando discussões sobre empreendedorismo.
Os casos de golpes e enganação praticados por muitos destes motoristas de aplicativo chegam a assustar. Por curiosidade, eu acompanhei experiências com aplicativo de transporte em outro país, só para entender se o problema é somente no Brasil.
Um empreendedor cria um negócio para que ele se perpetue. Não conheço nenhum empreendedor que começa investindo alguma coisa já pensando em terminar ou mudar de ramo de atividade. Com toda a certeza, isto é coisa de picareta ou de gente fazendo bico, enquanto não aparece nada melhor.
É provável que alguns poucos ainda defendam a profissão de motorista de aplicativo como uma forma de empreender. Contudo, estejam certos que estes parasitas não sabem nem o que um aplicativo de transporte determina. Desde que eles indicam o preço de uma viagem, selecionam quem pode obter uma viagem, promovem uma “loteria” cheia de vícios.
Me Engana que eu gosto
As legislações municipais e afins que regulamentam o uso e separação com outros meios de transporte, com efeito, são precárias e superficiais. A legislação que tipifica MEI (O que é ser um MEI?) é somente uma forma de esconder a elevada taxa de desemprego. A precarização nas condições de trabalho, aliada à insegurança e falta de assistência e proteção é pública e notória. As comparações entre um trabalhador celetista e um empreendedor de verdade, por exemplo, deveriam ser de conhecimento de todos.
Fico pensando no cara que me bloqueou porque escrevi que “motorista de aplicativo nem é gente“.
Será que ele ainda está na profissão? Empreendendo como nunca e feliz?
Espero que sim, pelo menos poderia servir de exemplo para alguma generalização apressada e não ser mais estatística de microempreendedores que deram errado.
O mais aterrorizante é ver professor (?) de gestão defendendo a proposta de que existem atributos que tornam o motorista de aplicativo um empreendedor. E não aparece nenhum amigo deste professor para explicar para ele a “real” ou ensinar rudimentos da exploração de trabalho.
Flores do Aplicativo de Transporte
Todavia, para não dizerem que não falei de flores, conheci algumas pessoas (POUQUÍSSIMAS) que estão ganhando dinheiro com aplicativos de transportes. Os exemplos são: gráficas rápidas de cartão de visitas; lavadores de lava-rápido caseiro; postos de gasolina; atacadistas de balas etc. Grandes corporações como locadoras de veículos(*), que tinham pátios cheios, e associações de proteção veicular se deliciam.
Enfim, este pessoal nem imagina como será a extinção de suas atividades … (e o pessoal de aplicativo de entrega sonha em ser motorista de Uber).
(*) Estas corporações recebem mais e mais benefícios fiscais e tributários do Estado, não existe limites.
Imagem: Reprodução Internet
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar comentários via e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.