Os ímpares
“Os ímpares” é uma produção documental que tem um enfoque surpreendentemente belo e rico do ponto de vista cultural. Cada episódio trata de obras musicais de autores considerados “malditos” pela opressora indústria fonográfica. Um dos episódios tem como tema o artista Sérgio Sampaio e seu grande hit “Eu quero é botar meu bloco na rua”.
Por outro lado, a série tem artistas desconhecidos pelo país, como é o caso do mineiro Marku Ribas. Embora tenha seu talento reconhecido por muitos artistas, a indústria fonográfica não perdoou Marku, Sérgio Sampaio e muitos outros. Foram artistas, com toda a certeza, impedidos de colocarem seus “blocos na rua“.
Bloco na Rua
Neste Carnaval, o que mais os brasileiros desejam é “botar o bloco na rua”. Os que pensam assim não entenderam a letra de Sérgio Sampaio nem em sonho.
Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrouHá quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegouEu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e venderEu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnavalEu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e venderFonte: Letras
Metáforas e realidade
Os anos entre 1964 e 1984 foram muito difíceis para todos os artistas. As letras, mesmo construídas através de metáforas, eram alvo fácil para as tesouras dos censores. A ditadura do período visou, primordialmente, aqueles artistas “malditos“. Com toda a certeza, as letras deles eram ácidas e representavam a opinião das pessoas que pensavam.
A música-sucesso de Sérgio Sampaio é merecedora da Série Ímpares não somente pela qualidade do autor, que está sendo revisitado tempos depois de sua morte. Carrega um conteúdo bem apropriado para estes tempos que sujeitos imbecis querem botar seu bloco nas ruas, em plena pandemia.
O discurso de que as empresas não devem estar fechadas e que todos podem ir às ruas, chega a ser criminoso. Estes que defendem todos saírem, com a ausência de vacinas e prevenção, deveriam ser julgados por crimes contra os brasileiros. Devem estar, inegavelmente, protegidos em seus círculos íntimos e no home office.
Temos uma geração do hedonismo oco(1), que não consegue substituir “meu bloco” por nosso bloco, não consegue ler e interpretar.
Malditas redes sociais
É provável que, um dia, a história desmascare estes que não teriam a mínima capacidade de entender a letra de Sampaio. E, como se não bastasse, talvez utilizassem como música-hino para algum tipo de manifestação chamando o povo para a rua. Ainda bem que o autor não está vivo para ver este tipo de sacrilégio.
Em tempos difíceis, como aqueles que vivemos à época dos belos versos de Sérgio Sampaio, é necessário mais do que poesia. O entendimento dos seus versos é artigo de primeira necessidade.
Numa troca de ideias recente, numa rede social, alguém apontou o dedinho impoluto dizendo que “o novo governo impõe censura”.
Ora… ora… ora… Esta pessoa ainda não entendeu o que podemos viver. Enfim, há quem diga que eles dormiram de touca.
A cada carnaval, sempre é hora de botar nosso bloco na rua. Portanto, saiam detrás dos teclados e das redes sociais, #taoquei?
(1) “A Geração do hedonismo oco”
Imagem: Reprodução Festival da Canção
Nota do Autor
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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.