A sociedade e o flanelinha
A sociedade brasileira sempre foi preconceituosa. São séculos de história de preconceito, escravidão, servilismo e maus hábitos. Algumas atividades são nocivas para a sociedade, enquanto outras sofrem com a discriminação. A atividade de flanelinha é uma profissão muito discriminada, com alguma razão, mas que são vítimas do preconceito.
Segundo um certo consenso semântico válido no Brasil e em Portugal, flanelinha ou arrumador, tem o mesmo significado. No caso do Brasil, a atividade pode se constituir numa contravenção ou até mesmo num crime.
Assim sendo, se estão na rua, abordando motoristas, pode ser fácil tipificar um flanelinha de qualquer crime. Ele será, a priori, culpado, só por estar na rua e, desse modo, advogados ou rábulas são especialistas no tema. Não devemos julgar pelas notícias e parcialidade da mídia. Contudo, não devemos dar absolvição pela quantidade de honorários recebidos pelos advogados.
O advogado e o flanelinha
O assunto da semana de carnaval diz respeito a um advogado e um flanelinha.
O advogado pode sofrer acusação de, à bordo da sua luxuosa BMW, atropelar, fugir e provocar a morte de uma trabalhadora. De um lado um “poderoso” cidadão que pode ter cometido um crime do outro as vítimas quase indefesas ou mortas. Como se não bastasse atropelar, o meliante fugiu sem prestar socorro. Portanto, seria o advogado Daniel Boczar Leão passível de acusação de dois, e não um, crime.
Certamente, não sou especialista do Direito, muito menos criminalista, mas vejo fortes evidências da ocorrência de outros crimes.
Senão vejamos. O motorista dirigia embriagado; logo após fugir, encontrou-se com amigos na Savassi e buscou um posto policial para acusar um flanelinha de agressão. Em outras palavras, formou uma quadrilha para acusar falsamente alguém, buscando álibi para o estrago em sua máquina mortífera.
Enfim, pensem comigo, se o suspeito fosse um flanelinha, que pegou um carro de cliente?
O leitor deve ter uma ideia das manchetes no dia seguinte, da pressão e prisão do criminoso, se ele fosse o flanelinha.
Crime e castigo
A princípio, o romance “Crime e Castigo” de Dostoiévski não nos traz nenhuma luz sobre o caso. Entretanto, o viés niilista e sociológico da obra, nos remete, diretamente, à moral deste advogado. Com toda a certeza, o advogado Daniel Boczar não deve, intencionalmente, saber que é praticante do niilismo negativo.
Desta forma, é até compreensível que o advogado do advogado, Bruno Correa Lemos, tenha lá seus motivos para defendê-lo. Deve conhecer muito bem a falta de sensibilidade moral do criminoso.
Casos como este exigem bons advogados, pagos a peso de ouro, bem de acordo com a conta bancária do criminoso e da família.
É provável que os amigos do criminoso tenham sugerido a narrativa que apresentou à polícia. Inegavelmente, advogados, com raríssimas exceções, são especialistas em narrativas, algumas bem fantasiosas. Acreditam que assim conseguem obter absolvições e penas menores.
O castigo do advogado Daniel Leão, por enquanto, é somente ter a carteira de habilitação suspensa (temporariamente) e as despesas iniciais de fiança e honorários. Enquanto isso, a família de Cássia Chaves, após enterrá-la, fica à mercê da mídia facínora. Perguntas estúpidas e exploração da tragédia de uma família que perdeu uma pessoa em um crime claro.
Nesse ínterim, o advogado de defesa, o criminoso e a família dele obtém uma boa proteção da mesma mídia sanguinária.
Ah! e o flanelinha?
O auxiliar de trânsito autônomo foi “salvo pelo gongo” ou por algum policial mais atento que, acostumado a histórias mal contadas. Bastou alguém pensar um pouco além das atribuições rotineiras de registrar um BO.
Casos e casos
Cada família deste país deve ter um caso destes para contar. Comigo não poderia ser diferente. Muitos anos atrás, protagonizei um acidente em que atropelei uma trabalhadora. Ela machucou-se bastante. Fiquei no local, ajudei a colocá-la no carro para encaminhá-la ao Pronto Socorro e me submeti a todos procedimentos policiais.
É importante ressaltar que eu estava certo e que fui “salvo” por duas testemunhas que se prontificaram durante todo o processo judicial. Com toda a certeza, tive ajuda valiosa de um advogado e destas duas testemunhas. Entretanto, mesmo após os depoimentos, um jovem promotor queria a minha condenação ou alguma indenização à vítima.
A Justiça é, claramente, cega, surda e muda, não consegue se manifestar nem nos autos e as partes processuais têm pouco poder.
O sistema é bruto e não é para amadores. SMJ.
Todo mundo mente
Algum tempo atrás, publiquei um texto com o título “Todo mundo mente“. A frase, extraída de um personagem de TV reproduz o comportamento “normalizado” da sociedade. O suspeito (nas palavras da mídia) tem o direito de mentir e um julgamento “justo”. Contudo, fica difícil falar em julgamento justo quando a relação de envolvidos, inclusive o flanelinha, é extensa. A maioria dos envolvidos não têm acesso a profissionais do Direito com poder diante de juízes e tribunais parciais.
Enfim, num sinistro como este, é difícil relacionar a quantidade de crimes contra as pessoas e a sociedade. Forma-se até uma quadrilha para encobrir provas e acusar outras pessoas. E não ficaria assustado se, em breve, o acusado estivesse dirigindo, bebendo e defendendo os clientes da sua empresa de advocacia.
Aliás, estes clientes devem estar orgulhosos de terem um advogado famoso.
E não me venham misturar este caso com preferência política, religiosa, futebolística de vítimas, do acusado e dos demais personagens que sairão ilesos.
Um gambá sempre cheira outro e, como nos romances de mistério, aqui um flanelinha pode assumir o papel do “mordomo”.
P. S.
Surpreendentemente, ainda encontro pessoas na minha lista de relacionamentos de redes sociais que defendem estes tipos. É mais do que assustador e aterrorizante. A cumplicidade de autoridades do Judiciário e operadores do Direito é criminosa. “Manifestam-se nos autos…” de forma conveniente e na mídia de forma aviltante. As mensagens que recebi, reservadamente, comprovam todas as minhas teorias.
Imagem: Oswaldo Diniz – Itatiaia
Nota do Autor
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