Lay off
As redes sociais e seus personagens (perfis verdadeiros e falsos) têm se especializado em ressignificar(*) tudo. O uso do termo lay off em redes sociais de trabalho deveria seguir a ideia geral do termo original. Idiomas que utilizam o alfabeto latino, como por exemplo o português, são propícios a estrangeirismos.
Assim sendo, este termo tem me incomodado muito, especialmente em redes sociais e plataformas cuja temática é trabalho e emprego. Portanto, não é apenas o uso de uma palavra ou termo que existe tradução para o português que me incomoda. Certamente, o maior desconforto é com a redefinição do termo em uso por grupos de pessoas com um novo significado.
Dicionário
O dicionário Oxford trata a palavra lay off com duas acepções:
1 um ato de deixar as pessoas desempregadas porque não há mais trabalho para elas fazerem.
2 um período de tempo em que alguém não está trabalhando ou não fazendo algo que normalmente faz regularmente.
Desse modo, é possível depreender que na primeira acepção, trata-se de demissão de pessoas. E, no segundo caso, por algum afastamento que, a princípio, entende-se ser um caso individual ou peculiar.
No Brasil, a legislação tem o termo “férias coletivas” quando as empresas suspendem o trabalho, o que criaria uma terceira acepção. Esta hipótese foi a encontrada para traduzir a palavra no Brasil
lay off ( lɐjˈɔf ) nome masculino
Redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão temporária do contrato de trabalho de um ou mais trabalhadores. A princípio efetuada por iniciativa da entidade patronal, em razão de motivo previsto legalmente (conjuntura económica, catástrofe, etc.). Contudo, pode ser iniciada com o objetivo de assegurar a viabilidade económica da empresa e a manutenção de postos de trabalho.
Fonte de referência: Infopédia
Ressignificação
As línguas vivas são dinâmicas e é natural que as palavras ganhem novos significados e até mesmo surjam palavras e termos novos. O caso de lay off (separado no dicionário Oxford) é exemplar e cria variantes como layoff (junto). O termo layoff tem uso em dicionários do idioma português numa única palavra.
Assim sendo, fica complicado quando vemos grupos de pessoas tentando forjar novos significados sem ao menos saberem o significado de filologia. O que tenho presenciado alguns “Top Voice” do LinkedIn fazerem com termos com lay off é um escárnio. Em outras palavras, qualquer um se dá ao direito de desrespeitar o idioma e as pessoas que pensam no significado das coisas.
Eufemismos e Hipocrisia
Como parte da hipocrisia é bom lembrar que se tornar MEI ou se dizer empreendedor(1) não livra ninguém da condição de desemprego. Muitas empresas incentivam a saída de empregados e contam com a cumplicidade em vários direitos, para lesar governo e outras instâncias.
Surpreendentemente, nas redes sociais, o termo apresenta-se de forma hipócrita por empresas que, na prática, estão demitindo seus funcionários. Estas empresas, com a conivência e subserviência de trabalhadores de RH, utilizam do termo lay off para disfarçar a situação de demissão.
Uma coisa é a suspensão do contrato de trabalho ou as férias coletivas. Certamente, muitos acordos trabalhistas preveem benefícios sociais mesmo após a demissão. Suspensão de obrigações trabalhistas usando eufemismos é a prática que as redes sociais adoram.
Não receber as verbas rescisórias em caso de demissão, receber salários particionados e não ter oportunidades de requalificação é ilegal. As empresas e seus profissionais de RH deveriam deixar de hipocrisia e eufemismo e tratar as pessoas com respeito.
Enfim, os gestores que utilizam destes termos ou eufemismos para tentar aparentar o que não praticam, podem fazer os acionistas pagarem caro. As ocorrências de empresas que se apresentam como “casos de sucesso” e na realidade não passam de arapucas se avolumam. Certamente, quanto maior a “propaganda” que traz slogan “o melhor lugar para trabalhar” maior deve ser o cuidado do trabalhador.
Redes Sociais
Essa hipocrisia, principalmente nas redes sociais, acaba gerando uma série de problemas para os trabalhadores. É provável que, em muitos casos, sofram assédio até para recorrer à Justiça do Trabalho e garantir seus direitos. Além disso, essa prática pode gerar uma imagem negativa para a empresa, que pode ser vista como desonesta.
Portanto, é importante que as empresas ajam com transparência e ética em relação aos seus funcionários. Deve-se evitar o uso hipócrita e impróprio do termo lay off. Tratar seus colaboradores ( outro eufemismo ! ) com respeito e dignidade, em todas as situações, é uma obrigação moral.
Um ponto importante seria revisar as contratações feitas por plataformas “automáticas” e qualificar os RH, próprios ou terceirizados.
A crise é grave e ressignificar palavras não passa de empulhação.
Ao trabalhador em processo de demissão ou desligamento, em lay off ou open to work ( maldito estrangeirismo! ) resta não entrar na hipocrisia reinante. Além disso, o trabalhador deveria se preocupar com a perda de seus direitos trabalhistas, qualquer hora não terá nenhum.
P. S.
O uso de estrangeirismos em diversas profissões e ramos do conhecimento é uma demonstração clara de arrogância e desrespeito com as pessoas. A área de recursos humanos deveria ser a primeira a abolir tal prática. Com toda a certeza, alguns profissionais praticam assédio moral e psicológico quando insistem no uso de estrangeirismos.
(*) Ressignificar na acepção de dar novo significado ou redefinir uma palavra ou uma coisa. Portanto, não se aplica, neste texto, o sentido das áreas comportamentais (psicologia e psiquiatria).
(1) “Empreendedor despreparado – A fronteira final”
Imagem: Reprodução Internet
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta colocar enviar comentários via e-mail para pyxis at gmail.com. Na página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter.
- Alguns textos são revisados, outros apresentam erros (inclusive ortográficos) e que vão sendo corrigidos à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.
Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.