Entre sem bater - Voltaire - Preconceito

Entre sem bater – Voltaire – Preconceito

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Voltaire tinha umas ideias estranhas. Contudo,  a maioria de seus pensamentos, como sobre o “Preconceito“, ainda são infalíveis.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Voltaire

Voltaire era um defensor da liberdade de expressão, dentre outras liberdades , que atualmente têm um cerceamento cruel. É provável que ele não confundiria liberdade de pensamento com distribuição de fake news e o compartilhamento de mentiras(2). E, com toda a certeza, seria vítima de preconceito gratuito, se vivesse hoje.

As frases de Voltaire estarão na pauta desta trilha (Entre sem bater) com alguma constância, são bastante atuais.

François-Marie Arouet ( 21 de novembro de 1694 – 30 de maio de 1778) foi um escritor, historiador e filósofo iluminista francês. Conhecido pelo pseudônimo ( nom de plumeM. de Voltaire, era famoso por sua inteligência, e sua crítica ao cristianismo. Era ferrenho opositor da Igreja Católica Romana e dos regimes que praticavam a escravidão. Voltaire era um defensor da liberdade de expressão , liberdade de religião e separação entre igreja e estado. Voltaire foi um escritor versátil e prolífico, produzindo obras em quase todas as formas literárias, incluindo peças de teatro, poemas, romances, ensaios, histórias e exposições científicas. Voltaire escreveu mais de 20.000 cartas e 2.000 livros e panfletos e propiciou muitas outras ideias e pensamentos de seus seguidores.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Preconceito

Normalmente, algumas frases que aparecem na trilha “Entre sem bater” são bastante comuns em vários sites e blogs com temática similar. Voltaire tem algumas de suas frases com atribuição equivocada, que podem ser tanto aforismo ou paráfrases. Entretanto, no caso desta simples frase sobre preconceito(*), a origem é de uma de suas obras.

Preconceito
( pre·con·cei·to )
substantivo masculino
1. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial.
2. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos. = INTOLERÂNCIA
3. [Pouco usado] Crença em coisas fantásticassem relação racional entre causa e efeito. = ABUSÃOCRENDICESUPERSTIÇÃO
Origem etimológica: pré- + conceito.
Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2023)

Era Digital e o preconceito

No século XVIII, o filósofo francês Voltaire proclamou que “Le préjugé est une opinion sans jugement” (Prejudices – 1764). Essa afirmação ressoa, atualmente, como um Armagedom entre preconceito e opinião no mundo moderno. E, como se não bastasse, ganhou uma nova dimensão na era digital, especialmente no Brasil.

Nos últimos vinte anos, as redes sociais emergiram como poderosas ferramentas de comunicação. Assim sendo, o que poderia ser uma plataforma global para que indivíduos compartilhem suas ideias, opiniões sofreu um desvirtuamento. Infelizmente, as ideias opostas(2) e opiniões, através da fantasia de liberdade de expressão, expõem os preconceitos e muita coisa ruim.

O que antes era somente um sussurro em conversas particulares ou manifestações discretas agora é uma exibição pública e global. Surpreendentemente, a maneira desenfreada e até criminosa destas manifestações ganha adeptos e compartilhamentos. Desse modo, revelam-se as mais sombrias personalidades da nossa sociedade contemporânea.

As redes sociais, inicialmente um meio para conectar pessoas e promover o compartilhamento de informações, transformaram-se num palanque virtual. Umberto Eco e outros pensadores estão dizendo isso nas próprias redes, em vão. Desta forma, os preconceitos se manifestam, cada vez mais, livremente e com sérias dificuldades para estarem em algum contexto.

O anonimato relativo das plataformas digitais permite que indivíduos expressem opiniões que, de outra forma, não o fariam. No entanto, essa falta de responsabilidade não só deu voz aos oprimidos, mas também chama atenção que busca disseminar o ódio. Assim sendo, o preconceito que antes poderiam ter avaliação pressão social ou pela autoridade institucional ficou sem controle.

Em suma, agora os preconceituosos e congêneres encontraram nas redes sociais um terreno fértil para prosperar, agredir e abusar.

Diversidade e Inclusão

O preconceito, em suas várias formas, encontrou uma nova casa nas plataformas digitais e redes sociais. As diferentes formas de preconceito passam por várias dissimulações que, nem sempre, são explícitas. E, para piorar, pelo menos no Brasil, a simples frase de Voltaire ganha nuances inimagináveis até bem pouco tempo atrás. Aquele povo que se autoproclamava o “mais gentil” e “hospitaleiro” do planeta, transformou-se e não aceita nada que seja diferente.

Desta forma, as várias manifestações preconceituosas ganham espaço até mesmo no mundo real. Autoridades em vários níveis, não medem as palavras e cometem sincericídio contra tudo que não pensa como eles. A prática, nas redes sociais, é como um Fla-Flu, um dos lados lutando pelo respeito à diversidade e inclusão e o outro lado excluindo.

Racismo

O racismo(3), por exemplo, uma chaga persistente na história da humanidade, não só persiste nas plataformas online como avança. Políticos segregam nordestinos como se isso fosse alguma coisa normal. E, como se não bastasse, aumentam os casos de citações racistas em todos os meios de comunicação. Um governador de um dos estados mais representativos da União cita figuras fascistas e deprecia nordestinos, o que não é normal.

Comentários racistas estão abertamente nas redes sociais, memes ofensivos circulam impunemente. E, com efeito, até mesmo grupos extremistas encontram refúgio nas entranhas da Internet e plataformas abertas. A disseminação de ideologias de ódio está ao alcance de apenas um clique em “compartilhar”, sem filtros. Desta forma, causa uma espiral de intolerância que prejudica não apenas as vítimas diretas, mas toda a sociedade.

Gênero

Do mesmo modo que o racismo, os preconceitos de gênero e orientação sexual encontraram um novo meio para se proliferar. A misoginia, sexismo, homofobia, muitas vezes disfarçadas sob o véu da “opinião pessoal“, manifestam-se abundantemente. Portanto, o assédio virtual e até mesmo ameaças e atividades de violência física passaram a ser notícias do dia-a-dia.

Da mesma forma, comunidades LGBTQIA+ enfrentam batalhas diárias contra a homofobia e a transfobia online, sem sucesso. Estas ações repugnantes minam os avanços conquistados na busca por igualdade. A agressão virtual muitas vezes transcende para o mundo real, alimentada pelo eco de perfis virtuais que validam e amplificam opiniões preconceituosas.

Chegamos quase ao fundo do poço quando um deputado eleito com votação recorde utilizou o plenário da Câmara de Deputados para achincalhe. E, como se não bastasse, a Comissão de Ética não viu nada de excepcional e nenhum processo terá consecução. (N.A. o deputado em questão é alvo de processos sobre preconceito de gênero em várias instâncias, é contumácia.)

Religião

Com toda a certeza, misturar religião, política e outros temas, como os mais polêmicos, não gera nenhuma evolução. Desse modo, quando existem preconceitos religiosos e a política eleitoral utiliza para o bem ou para o mal, os resultados são ruins. Por exemplo, quando alguém, para defender uma ideia educacional, utiliza-se de preceitos e dogmas religiosos, comete um crime. Esta manipulação mental(4) aflige mais aqueles que se apegam a questões religiosas e professam preconceitos irracionais.

As redes sociais, com toda a certeza, são o terreno mais fértil para o preconceito religioso. A diversidade religiosa, que poderia ser uma força unificadora, é uma fonte de divisão dos inimigos, para dominá-los. A estratégia de dividir os “inimigos” para conquistá-los vem desde Sun Tzu e Maquiavel.

Comentários antirreligiosos e discursos de ódio têm disseminação fácil, alimentam conflitos e até provocam mortes. A falta de compreensão mútua tem uma exponenciação cruel devido aos algoritmos das redes sociais. A bolha algorítmica na qual muitas pessoas se encontram é real e a privacidade de todos teve um grave hackeamento(5). Espaços virtuais privilegiam somente perspectivas semelhantes, reforçam visões preconceituosas e provocam isolamento dos diferentes.

Preconceitos Comportamentais

Nesse ínterim de convulsão social e digital, uma questão tornou-se crítica: a disseminação de preconceitos comportamentais.

As redes sociais tornaram-se, primordialmente, espaços para ridicularizar as pessoas e não falar sobre ideias. Raramente vemos a análise das ideias e julgamento (préjugé) dos indivíduos, com base em suas ações, prevalece.

As pessoas recebem rótulos e sofrem críticas por escolhas pretéritas, muitas vezes sem espaço para redenção ou mudança. Esse tipo de preconceito não apenas mina a capacidade de crescimento pessoal, mas também contribui para uma cultura de cancelamento. Estes comportamentos, onde um erro, por menor que seja, resulta em consequências devastadoras para a vida das pessoas.

A desenfreada expressão de preconceitos, extremismos e exclusões nas redes sociais não é apenas prejudicial de um ponto de vista moral e social. Assim sendo, ultrapassamos os limites das posturas comportamentais e atingimos questões jurídicas e legais.

O discurso de ódio online, por exemplo, pode cruzar a linha da incitação à violência ou pode ser um assédio criminoso. No entanto, a fronteira entre a liberdade de expressão(6) e a incitação ao ódio é muitas vezes tênue. Questões complexas sobre como equilibrar a proteção dos direitos individuais sofrem negligência “natural”.

A necessidade de manter a segurança, comportamentos saudáveis e o respeito mútuo na esfera digital é um objetivo difícil de atingir.

Controle

É bastante complexa a questão da liberdade de expressão, uso de redes sociais e plataformas digitais. Temos, atualmente, o abuso a direitos individuais, em conflito e contraposição ao direito de outras pessoas. É comum alguém argumentar seu direito de opinião, agredindo ou atacando outras pessoas. Desse modo, apelamos para o Estado exercer algum tipo de controle, o que os agressores e liberais condenam quando lhes convém.

Em resposta a essa crescente ameaça, governos e empresas de tecnologia buscam medidas para conter a disseminação do preconceito. A moderação de conteúdo, por exemplo, é uma estratégia comum adotada pelas plataformas, normalmente inócua. Ao identificar e remover discursos de ódio e conteúdo ofensivo, o autor das irregularidades já disseminou o que queria.

No entanto, essas abordagens muitas vezes são imperfeitas, levando a debates sobre censura e liberdade de expressão legítima, mas estéreis. Além disso, o alcance global da Internet torna difícil a implementação consistente e eficaz de regulamentações. Como se não bastasse, a diversidade de leis e normas culturais diferentes nos países, provoca muitas distorções.

Educação

No cerne desse desafio está a necessidade de educação e conscientização de cada usuário de recursos e plataformas digitais. A frase atribuída de Voltaire assume uma nova urgência em um mundo onde a opinião é expressa de forma incompleta. Portanto, o julgamento muitas vezes é escasso e o predomínio das distorções comportamentais precisa de contenção.

A educação sobre os impactos reais do preconceito, do discurso de ódio e a importância da empatia são cruciais para combater essa pandemia virtual. Isso deve começar nas escolas e sofrerem reforço em casa, capacitando os indivíduos a discernir entre opiniões legítimas e preconceitos tóxicos. Desta forma, além de incentivar as pessoas a serem defensores ativos da igualdade e do respeito cria-se uma cultura evolucionista.

Além disso, as próprias plataformas de redes sociais deveriam adotar um papel fundamental nesta batalha, ao invés de promover a discórdia. Surpreendentemente, plataformas como o LinkedIn(7), que era para ser de trabalho e emprego, abrem espaço para debates políticos e segregacionistas.

Le préjugé

Estas plataformas deveriam ser mais transparentes em relação aos algoritmos que moldam nossas bolhas de informação e conhecimento. Deveriam buscar maneiras de expor os usuários a uma gama mais ampla de perspectivas, opiniões e pensamentos. A promoção de debates saudáveis ​​e os engajamentos construtivos também devem ter incentivos positivos. Portanto, enquanto as medidas de moderação precisam ter monitoração constante, o conteúdo tóxico deve ter exclusão permanente.

Em última análise, a frase de Voltaire destaca o perigo da opinião sem julgamento, com aplicação direta nas redes sociais de hoje. O desafio de combater o preconceito na era digital é complexo e plural, mas não é insuperável. Certamente, esforços coordenados de governos, empresas, educadores e indivíduos podem criar uma cultura inovadora. Uma cultura online onde a diversidade seja normal, a empatia e a opinião formem julgamentos com fundamentação e imparciais.

Assim sendo, podemos esperar que a promessa original das redes sociais – conectar pessoas e ideias de maneira positiva – seja plena. Enfim, moldar um mundo virtual mais justo, com diversidade, respeito e inclusivo, talvez seja possível.

P. S.

(*) Com toda a certeza, todos os brasileiros são negacionistas quando sofrem acusação de serem preconceituosos. E, sem dúvida, todos temos, em certa medida, preconceitos que cresceram e fincaram raízes na forma como recebemos nossa educação. Infelizmente, o discurso do ódio nas escolas, aos professores e outros prosperou, perigosamente, nos últimos dez anos. A reeducação de adultos e adolescentes não será fácil e bem sem perdas irreparáveis para grupos sociais e famílias.

 

(1) “Os compartilhadores de mentiras

(2) “Entre sem bater – Scott Fitzgerald – Ideias Opostas

(3) “Racismo: A hipocrisia nossa de cada dia

(4) “Entre sem bater – Aldous Huxley – Manipulação Mental

(5) “Privacidade Hackeada

(6) “Entre sem bater – Dante Alighieri – O Princípio da Liberdade

(7) “Pecados Digitais – A soberba

 

Imagem: Entre sem bater – Voltaire – Preconceito

Nota do Autor

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