Entre sem bater – Clarice Lispector – Território Virgem

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Frases de poetas como Clarice Lispector permitem, certamente, muitas interpretações, são um “Território Virgem“.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Clarice Lispector

Em primeiro lugar, devo confessar que não sou fã do trabalho de Clarice Lispector. É provável que a minha dificuldade, quando adolescente, em entender idiossincrasias fosse determinante. Contudo, após muito tempo, acostumei-me e gosto de ver reflexões sobre as ideias e frases dela. A ideia da mente sem preconceitos, relacionando-se com um território virgem e pronto ao conhecimento, parece ser muito boa.

Clarice Lispector (nascida Chaya Pinkhasivna Lispector ( 1 de dezembro de 1920 – 9 de dezembro de 1977) foi uma romancista e contista brasileira, nascida na Ucrânia. Seus trabalhos inovadores e idiossincráticos exploram uma variedade de estilos narrativos com temas de intimidade e introspecção. Sua atitude inovadora e diferente teve, posteriormente, aclamação internacional. Nascida em uma família judia em Podolia, no oeste da Ucrânia, quando criança ela se mudou para o Brasil com sua família, em meio aos desastres que engolfaram sua terra natal após a Primeira Guerra Mundial.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Território Virgem

A frase-título deste texto deve estar dentro de um contexto que nos leva a reflexões maiores e mais amplas, sem limites.

“Eu não sei muito. Mas há certas vantagens em não saber. Como um território virgem, a mente está livre de preconceitos. Tudo o que não sei forma a maior parte de mim: esta é a minha generosidade. E com isso eu entendo tudo. As coisas que não sei constituem a minha verdade.” Clarice Lispector

Desse modo, podemos relacionar a ideia da liberdade de expressão, nossos preconceitos mais íntimos e uma pretensa liberdade de pensamentos.

Liberdade

Surpreendentemente, a maioria das pessoas que alardeiam liberdade de expressão, nas redes sociais, não têm a mínima ideia do que estão falando. Repetem, como papagaios, aquilo que lhes dá a impressão de que milhões estão ouvindo ou lendo o que dizem ou escrevem.

A ditadura da comunicação nas mídias digitais provocou um bloqueio fenomenal e a manipulação de massas⁽¹⁾ transformou-se em coisa normal. Por outro lado, a Era do conhecimento escancarou a verdade sobre o acesso à informação e o que podemos fazer com ela.

Clarice Lispector, certamente, pelas suas peculiaridades e postura, entendeu que a filosofia do tipo “só sei que nada sei” pode muito mais. Assim sendo, alinho-me com o pensamento dela ao dizer que há muitas vantagens em não saber de algumas coisas. Entretanto, a complexidade de saber e não conseguir transmitir ideias, sem preconceitos, encontra uma barreira intransponível no receptor.

A ideia de que todos somos um território virgem, com uma mente limpa e aberta, inexiste em tempos de ideias rasteiras e voláteis.

Universo Infinito

Podemos, por exemplo, relatar uma troca de ideias entre pessoas com certo nível de esclarecimento e civilidade. A hipocrisia do “respeito sua opinião” ganhou, com toda a certeza, o mundo das redes sociais.

Uma simples troca de ideia sobre a pré-história e antiguidade pode se transformar num embate, tipo um Fla-Flu⁽²⁾.

As pessoas, sobretudo nas redes sociais, torcem e brigam para terem razão, sem abrirem as mentes para aquilo que é divergente.

Infelizmente, nem a constatação que o universo é infinito e nossa mente tem muitas limitações, devido a dogmas⁽³⁾ e preconceitos prevalece.

Entendo, primordialmente, que só o debate racional é que significa respeitar opiniões e ideias.

Amarras Invisíveis

A liberdade de pensamento é um valor fundamental em uma sociedade democrática. A diversidade de ideias e perspectivas enriquece o debate e a busca por soluções coletivas. No entanto, há um aspecto sombrio que ronda esse ideal: a influência dos preconceitos que moldam o pensamento humano. Estes preconceitos travestem-se de muitas em muitas ideologias, restringindo a verdadeira abertura para ideias divergentes.

Os preconceitos assumem diversas formas, desde os mais claros, como os de etnia, gênero ou religião. Como se não bastasse, apresentam-se em nuances mais sutis, como os que se relacionavam a políticas, culturais e estilos de vida. A resistência dessas crenças, inquestionavelmente, dificultam a aceitação de ideias que desafiam nossa visão de mundo. Desse modo, geram resistências e até mesmo hostilidade em relação a tudo que seja diferente ou “fora da caixinha“.

Em suma, a liberdade de pensamento é um ideal que, raramente, encontra um território virgem para habitar. Os preconceitos representam as amarras de cada mente que não consegue se libertar. Contudo, ao reconhecermos que podemos saber sempre mais, podemos caminhar em direção a uma sociedade mais inclusiva. Uma sociedade diversa, gentil e com trejeitos de civilidade, livre em seus pensamentos e debates.

 

⁽¹⁾ “Manipulação de Massas – A série”

⁽²⁾ “A estupidez gerada por um Fla-Flu”

⁽³⁾ “Dogma x Pensamento”

 

Imagem: Entre sem bater – Clarice Lispector – Território Virgem

Nota do Autor