Entre sem bater - Upton Sinclair - Compreender as Coisas

Enter sem bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Upton Sinclair era um escritor estadunidense que, certamente, se fosse vivo, teria dificuldade em “Compreender as Coisas“.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Upton Sinclair

Gosto de algumas palavras como, por exemplo, muckraker. Houve um tempo em que o que hoje chamamos de jornalista investigativo tinha esta denominação. Upton Sinclair era um muckraker raiz e, sem dúvida, não tinha nenhum trejeito do que vemos hoje na mídia. Respeito muito quem é muckraker e ainda ganha um prêmio Pulitzer, o que confirma a teoria da imprensa cínica(1), a qual Sinclair não pertencia.

Upton Beall Sinclair ( Upton Sinclair ), nasceu em 20 de setembro de 1878 nos EUA e faleceu em 25 de novembro de 1968. Foi um prolífico romancista americano, muckraker e defensor do socialismo, da saúde, temperança, liberdade de expressão, e direitos trabalhistas. Seu clássico romance de escândalo The Jungle (1906) é um marco entre o trabalho proletário naturalista. Ativista político, candidatou-se a governador da Califórnia em 1934, pelo Partido Democrata. Ele escreveu quase 100 livros e outras obras literárias nos mais diversos gêneros. Ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1943 tendo alcançado popularidade considerável na primeira metade do século XX.

Fontes: Britannica Wikipedia (Inglês)

Compreender as Coisas

Se considerarmos o contexto em que Upton Sinclair proferiu muitas de suas frases, provavelmente, de cunho socialista, ele foi muito corajoso. Em uma de suas muitas frases de coragem, ele disse que: “… o fascismo é o capitalismo, com mais assassinatos nas costas…”. Uma vez que estas palavras estão numa publicação durante a Segunda Grande Guerra, podemos dizer que ele foi extremamente passional.

Superficialidade das Redes Sociais

Vivemos, certamente, num mundo de rápida evolução tecnológica e pela disseminação massiva de informações falsas e verdadeiras. Desse modo, a dificuldade paradoxal das pessoas em compreender as coisas simples e complexas é assustadora. Como se não bastasse, a maioria das pessoas, na ânsia de se mostrarem, compartilham tudo que recebem, sem saber do que se trata.

A superficialidade das redes sociais e a crescente preguiça mental para a leitura de textos mais elaborados superam qualquer proposta de reflexão. Com isso, emergem fatores fundamentais para o caos informacional que estão colocando as pessoas num abismo cultural. Em outras palavras, num cenário onde a informação é abundante, é preciso ter filtros e respirar, antes que sejamos irracionais.

É provável que a compreensão plena e profunda de qualquer questão requeira um esforço cognitivo acima do tolerável. E, desde que as pessoas entraram de cabeça nas redes sociais e plataformas, a maioria hesita em ceder a este comportamento.

Limitações

As redes sociais, que originalmente eram para conectar as pessoas e compartilhar conhecimentos e momentos, desviou-se do objetivo. Diante disso, transformaram-se em espaço onde a exposição do superficial ganhou primazia sobre a reflexão, a crítica e o pensamento.

A restrição de caracteres, como o caso do Twitter, e a ênfase em imagens e vídeos no Instagram, impingem limites que os ignorantes adoram. Não é preciso escrever muito, pode-se falar ao invés de escrever, existem músicas de apoio e muito mais. Uma vez que incentivam a expressão de ideias de maneira muitas vezes simplista e curta, as pessoas se escondem.

Certamente, nem este paradoxo é motivo de reflexão, pois as ações humanas(2) em tempos de redes sociais aderiram à superficialidade e limitações.

Falta de Conteúdo

O conteúdo das redes sociais, ou a falta dele, apresenta-se em pequenas porções, com adaptações para capturar a atenção em frações de segundos. Raramente, é possível e aconselhável uma análise substancial, mesmo que o conteúdo seja apenas uma frase. Nesse contexto, as informações são como lanches de fast food, rápidos, sem sabor, artificiais, satisfazendo o apetite por “novidades”. Contudo, deixam lacunas para aqueles que exigem um pouco mais de conteúdo para compreender as coisas, mesmo que pequenas.

Além disso, as redes sociais têm uma tendência a criar câmaras de eco e espaços de proselitismo(3) autoritário, demagógico e rentista.  Nestes espaços, os usuários adoram as opiniões e informações que reforçam as suas próprias definições e conceitos. Isso leva a uma polarização de ideias e à incapacidade de considerar perspectivas alternativas.

A profundidade da compreensão exige a atenção de múltiplos pontos de vista, o que frequentemente não ocorre nas bolhas online. A necessidade de validação social também leva à adoção acrítica de informações, sem uma investigação de veracidade.

Preguiça Mental

Uma conjunção de fatores e os avanços das facilidades que as tecnologias proporcionam, causa mais estragos do que a maioria imagina. As perturbações da mente, principalmente dos mais viciados em redes sociais, provoca efeitos sinistros, como a preguiça mental.

A preguiça mental(4) se manifesta na aversão ao esforço cognitivo necessário para compreender questões simples ou complexas.

Em um ambiente onde a informação é facilmente acessível, a habilidade de mergulhar em textos mais longos e densos é rara. Como se não bastasse, plataformas de perguntas e respostas aceitam perguntas inadmissíveis para seres humanos normais.

As pessoas estão se habituando a resumos, listas e vídeos curtos que oferecem informações rápidas, mas superficiais. As pessoas adquiriram o vício de encontrar respostas rápidas em grupos e plataformas. Desse modo, precisam somente ler a resposta que mais lhe convier, sem pensar em nada além disso.

A leitura, que foi, anteriormente, essencial para a aquisição de conhecimento, perdeu espaço para formas passivas de consumo de informações.

Recompensas

Além disso, a era da gratificação e recompensas afeta a capacidade de concentração e a disposição para lidar a arte de compreender as coisas. Inquestionavelmente, a leitura atenta, a reflexão e a conexão entre ideias está em desuso e seus defensores são marginalizados. Estas habilidades sofrem erosão pela constante alternância entre diferentes fontes de informação e distrações constantes das redes sociais.

A capacidade de mergulhar em um livro longo ou em um ensaio complexo requer prática e paciência. Estas condicionantes são qualidades que estão em declínio na sociedade contemporânea. Por outro lado, nem os pequenos textos, de baixa qualidade, não fazem por merecer uma reflexão ou consequência.

A maioria da geração que tomou conta das redes sociais só trabalha a mente, mesmo com preguiça mental, em troca de recompensas imediatas.

Ideias, Coisas, Pessoas

Surpreendentemente, vivemos a era da desinformação, com muita informação, e privilégios para os julgamentos das pessoas. Desta forma, temos a certeza de que o provérbio sobre debater as ideias e as coisas, como o racional, perdeu sentido. Qualquer debate inicia-se pela falácia de atacar o mensageiro, para angariar simpatia dos iguais.

Para reverter essas tendências preocupantes, é imperativo promover a valorização da profundidade na compreensão das ideias e coisas.

Em primeiro lugar, temos que entender a educação de qualidade e laica num papel crucial para a formação dos indivíduos. Desde a tenra idade, é necessário incentivar práticas de leitura mais extensas e análises críticas de informações. Por outro lado, esta prática pode ter alguns resultados imprevisíveis e os educandos não estão em condições de entender das coisas e das ideias.

Discernimento

Discernimento e coerência são termos de dificílima aceitação entre a massa que sofre manipulação sem reconhecer. A introdução e eliminação de ícones em plataformas passa por momentos absurdos. Por exemplo, numa determinada plataforma colocaram um ícone para associar a condição de “interessante. Desse modo, quem realmente achou crível e interessante e aquele que está sendo irônico, usam o mesmo ícone. A plataforma, ao invés de colocar um concordo/discordo, eliminou o “interessante”.

A habilidade de discernir entre fontes confiáveis ​​e não confiáveis é competência essencial para navegar no mundo da informação. Se bem que a capacidade de extrair conclusões e resultados sólidos de textos, simples e complexos, é quase nula,

Além disso, as próprias plataformas de redes sociais deveriam, mas não querem, criar maneiras de promover o conteúdo mais substantivo. Outrossim, poderia promover postagens mais longas e a criação de espaços com ênfase no debate mais sério. Também deveriam privilegiar o uso de algoritmos que não foquem somente no engajamento pueril.

Infelizmente, as plataformas transformaram-se em espaço de brincadeiras e sem preocupação sobre a qualidade da informação.

Mudança Cultural

O mundo atual não permite às pessoas compreender as coisas como elas são. Com toda a certeza, julgamentos e suposições chegam bem antes no visor de todo mundo.

Assim sendo, uma mudança cultural também é necessária no mundo digital e no mundo real. Valorizar a busca pela compreensão ampla, mesmo que isso exija mais tempo e esforço, é essencial para combater a superficialidade reinante.

Certamente, não conseguimos uma compreensão profunda em um único tuíte ou postagem do Instagram, mas compreender as coisas é essencial.

Enfim, a natureza condensada das informações nas redes sociais, aliada à preferência por conteúdo fácil de consumir, determina nosso comportamento. Cria-se assim um ambiente propício para uma compreensão rasa  e superficial, que pode transformar-se em “fato“.

A habilidade de mergulhar em textos com mais de 280 caracteres e de considerar múltiplas perspectivas está sob ameaça e ataque. A reversão desse quadro exige esforços concentrados em educação, no design das plataformas e na mudança cultural dos usuários. A cada adesão às plataformas sem conteúdo, mesmo que “moderninhas” e “simpáticas” afundamos na esgotosfera.

Em suma, depende de cada um compreender as coisas e valorizar a profundidade na busca pelo conhecimento. Só assim poderemos superar os obstáculos que nos separam de uma compreensão plena e significativa dos problemas em nosso mundo.

Sinclair era, sem dúvida, praticante da investigação, a crítica, a reflexão e o pensamento, mas não sobreviveria às redes sociais. As pessoas não compreendem as redes sociais e a maioria jamais vai ganhar dinheiro com elas.

 

(1) “Entre sem bater – Joseph Pulitzer – Imprensa Cínica

(2) “Entre sem bater – Baruch Spinoza – Ações Humanas

(3) “Entre sem bater – Pietro Ubaldi – O Proselitismo

(4) “Entre sem bater – Liz Hurley – Preguiça Mental

 

Imagem: Entre sem bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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