Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. O “Racismo no Brasil” é, com toda a certeza, estrutural e de uma covardia que Abdias do Nascimento percebeu com um olhar casual.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Abdias do Nascimento
O polímata multidisciplinar, Abdias do Nascimento, adquiriu experiência e conhecimento para falar e escrever sobre o racismo no Brasil e no mundo. Entretanto, ele foi muito além de escrever ou falar, ele fez parte de atividades que deram ao país uma cara diferente em relação ao racismo. Surpreendentemente, tudo que ele escreveu ou diagnosticou, como na frase-chave deste texto, confirma-se atualmente. Sem dúvida, retrocedemos uns 30 ou 40 anos com os quatro últimos anos de desgoverno de racistas e gente preconceituosa.
Abdias do Nascimento (Franca, 14 de março de 1914 — Rio de Janeiro, 23 de maio de 2011) foi um ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras. Considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo, foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010. Fundou entidades pioneiras como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Foi um idealizador do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado (MNU) e atuou em movimentos nacionais e internacionais como a Frente Negra Brasileira, a Negritude e o Pan-Africanismo. Foi professor emérito na Universidade Estadual de Nova Iorque em Buffalo, onde, durante seu exílio do regime militar, ele foi professor titular por dez anos. Nascimento atuou como professor visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale. Foi professor convidado do Departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade de Ifé, Nigéria. Voltando do exílio, foi deputado federal e senador da República.
Fonte: Wikipedia (Português)
Racismo do Brasil
O racismo no Brasil é, essencialmente, contra os afrodescendentes. Desse modo, diferencia-se do racismo em outras partes do mundo de formas singulares e significativas. De maneira diferente do racismo nos EUA e na África do Sul, por exemplo, o racismo no Brasil faz-se às escondidas e de maneira covarde.
O racismo é uma triste realidade que assola diversas sociedades ao redor do mundo, manifestando-se de diferentes formas e intensidades. No Brasil, país marcado por sua diversidade étnica e cultural, o racismo assume uma característica peculiar, dissimulada e covarde. Em contraposição ao racismo explícito, como nos EUA e na África do Sul, o racismo no Brasil é aparentemente sutil, porém não menos impactante.
Destarte, destacamos que, independentemente de sua forma, o racismo é inaceitável em qualquer lugar do mundo. No entanto, compreender as particularidades de como ele se manifesta em diferentes contextos é essencial para combatê-lo. Desse modo, será possível promover um combate verdadeiro e a construção de sociedades verdadeiramente igualitárias.
Racismo Explícito
Em primeiro lugar, nos Estados Unidos, o racismo tem uma longa história de segregação e discriminação racial. Sobretudo pela imposição nos estados do sistema de “Jim Crow“(1), pela escravidão e sua Guerra Civil .
A segregação racial nos EUA era explícita e legalmente sancionada. Através de leis separava-se negros e brancos em escolas, transportes públicos e muitos outros aspectos da vida cotidiana. Esse racismo explícito gerou um movimento de direitos civis que culminou nos anos 1960, com líderes como Luther King. Estes líderes lutaram por igualdade de direitos civis para todos, independentemente de sua raça até desaguar na 14a emenda(2).
Na África do Sul, o racismo oficial, que vigorou de 1948 a 1994, através do horrendo sistema de apartheid. O sistema impunha uma segregação extremamente rígida e legalmente institucionalizada. Como se não bastasse, separava negros, brancos, indianos e mestiços em áreas específicas e negava direitos básicos aos negros.
O racismo na África do Sul era explícito e violento e criminoso. A luta contra o apartheid teve como líder Nelson Mandela e outros ativistas, resultando na queda desse sistema odioso. Surpreendentemente, inclusive pessoas que sofriam ficaram ao lado do opressor(3).
No entanto, ao analisar o racismo no Brasil, observa-se uma diferença marcante. É provável que a nossa diversidade étnica coloque uma cortina de fumaça que serve para esconder o racismo há séculos. Em outras palavras, esse fruto da miscigenação entre povos indígenas, africanos e europeus ao longo da nossa história mascara muita gente. Essa diversidade racial dá a falsa impressão de que o racismo é menos presente ou menos intenso no Brasil. Com toda a certeza, essa percepção está longe de ser verdadeira.
Racismo Dissimulado
O racismo no Brasil tem formas de dissimulação, o que torna mais desafiador reconhecê-lo e combatê-lo. Diferentemente do racismo explícito até em leis, no Brasil o racismo se esconde por trás de estereótipos, preconceitos e discriminação social. O mito da democracia racial, que afirma que no Brasil não existe racismo, contribui para a invisibilidade das formas sutis de discriminação racial.
O preconceito apresenta-se de forma sutil em comentários ou piadas que perpetuam a ideia de inferioridade das pessoas negras. Esse tipo de racismo muitas vezes passa em branco, mas tem um impacto profundo nas vidas destas pessoas. Não raramente, afetam a autoestima, diminui oportunidades de emprego e dificultam o acesso a serviços públicos de qualidade.
Além disso, o racismo no Brasil também se manifesta em disparidades sociais e econômicas que afetam desproporcionalmente as comunidades negras. A falta de acesso a saúde e educação, trabalhos bem remunerados e moradia digna são exemplos de como o racismo estrutural opera no país. Adicionalmente, grupos de pessoas, brancas e geralmente homens, reclamam das cotas para negros e mulheres.
Mídia e Trabalho
Outrossim, a mídia também desempenha um papel importante e opressor na perpetuação do racismo no Brasil. A representação estereotipada e negativa de pessoas negras na televisão, e outras mídias, diminuiu muito, mas ainda existe. A construção de uma imagem distorcida da população negra nas novelas, filmes e outras formas de divulgação sempre estiveram presentes. Desse modo, prejudicam e influenciam a maneira como as pessoas negras têm a percepção e tratamento da sociedade.
A discriminação racial no mercado de trabalho torna-se grave quando negros e negras recebem salários menores que os brancos. Do mesmo modo, as mulheres recebem tratamento diferenciado e até mesmo preconceituoso. As pessoas negras, com toda a certeza, enfrentam dificuldades adicionais na busca por emprego e aceitam salários mais baixos. Surpreendentemente, negros com a mesma qualificação e formação podem enfrentar processos desiguais e ascensão profissional. Por isso, cria-se um ciclo de desigualdade que perpetua a exclusão econômica das pessoas negras.
Sem solução
Enfim, embora o racismo(4) no Brasil possa ter mais dissimulações ou menos sutilezas do que em outros lugares, ele não é menos prejudicial. A discriminação racial afeta profundamente a vida e as oportunidades das pessoas negras no país. Além disso, este tipo de racismo é mais difícil de combater, por não ter aceitação da sociedade negacionista.
O combate ao racismo no Brasil exige um esforço conjunto da sociedade, do governo e das instituições. É fundamental reconhecer a existência do racismo no país, mesmo que ele se manifeste de maneira dissimulada, e combatê-lo.
Algumas medidas ao alcance de todos são:
- Educação: Promover a educação antirracista nas escolas e universidades (públicas e particulares). Desta forma, as pessoas aprendem sobre a história do racismo no Brasil e suas consequências nefastas.
- Leis: Fortalecer as leis que proíbem e criminalizam a discriminação racial, incentivando a igualdade racial.
- Políticas Públicas: Fortalecer políticas públicas que promovam a igualdade racial, como programas de inclusão social e econômica para negros.
Embora a questão da sutileza tenha uma refutação plausível por parte de Abdias do Nascimento. É verdade a sua resposta completa sobre o racismo no Brasil.
“O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial.“
Abdias do Nascimento
A luta contra o racismo é uma luta que deve ser constante. É importante que todos se mobilizem para combater todas as formas de racismo, seja ele explícito ou sutil.
(1) “Leis de Jim Crow”
(2) “14a emenda – Mais de 150 anos de atraso”
(3) “Entre sem bater – Desmond Tutu – Lado do Opressor”
(4) “Racismo: A hipocrisia nossa de cada dia”
Imagem: Entre sem bater – Abdias do Nascimento – O Racismo no Brasil
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.