Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Carolina Maria de Jesus sabia perfeitamente o que é a “Fome“, pois quem sofreu deste mal sabe o que é.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Carolina Maria de Jesus
É provável que os críticos e haters ao lerem este texto, tenham um motivo para recrudescer com o paralogismo e ataques. Reconheço que o motivo da minha relação com “Quarto de Despejo” seja um alimento para estes. Em outras palavras, posso abaixar a guarda e admitir que não ler o livro inteiro sempre foi um erro. Entretanto, a justificativa está em várias passagens do livro que são muito reais e tristes, e crescem a cada dia.
Carolina Maria de Jesus (14 de março de 1914 – 13 de fevereiro de 1977 ) foi uma memorialista brasileira da periferia que viveu a maior parte de sua vida como moradora de favela. Obteve reconhecimento por seu diário, publicado em agosto de 1960 como Quarto de Despejo (lit. Junk Room , título em inglês Child of the Dark: The Diary of Carolina Maria de Jesus ) após atrair a atenção de uma jornalista brasileira. A obra tornou-se um best-seller e ganhou reconhecimento internacional. A obra continua sendo o único documento publicado em inglês por um morador de favela brasileiro. Carolina Maria de Jesus passou uma parte significativa de sua vida na favela Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e a três filhos como catadora de sucata.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
A Fome
Apesar do tema deste texto e da frase-chave que o inspira ser a fome, ouso afirmar que desgraça pouca é bobagem e nunca vem só. Se formos comparar a história de Carolina com a da escrava Madalena(1), fica impossível determinar qual realidade é mais cruel.
A crueldade e falta de humanidade é tamanha, em ambos os casos, que, assustadoramente, as pessoas começam a achar natural. Como se não bastasse, aparecem os fazedores de caridade(2) como se fossem cristãos e bons samaritanos.
A poetisa autora de Junk Room tem várias frases sobre a fome, assim como outros tantos pensadores. A fome é, inquestionavelmente, a mais impiedosa das misérias que o homem pratica com seu semelhante. Alguns males, especialmente os provocados pela natureza, são cruéis, entretanto, o homem não eliminar a fome é uma covardia.
Abismos
Em primeiro lugar, a teoria malthusiana(3) atende, única e exclusivamente, àqueles que combatem as ideias de igualdade entre seres humanos.
A história da humanidade tem marcas impiedosas em diversos males, desde desastres naturais até conflitos devastadores. No entanto, entre todas as adversidades, a fome se destaca como a mais impiedosa das misérias que assolam o homem. Enquanto algumas calamidades são inevitáveis, a fome, em muitos casos, poderia ter um fim. Entretanto, a humanidade parece negligenciar essa urgente necessidade em prol de preocupações superficiais e avanços tecnológicos.
“Quem inventou a fome são os que comem.“
Essa frase provocativa revela uma verdade incômoda sobre a desigualdade alimentar que persiste em nosso mundo.
A abundância de recursos disponíveis contrasta drasticamente com a escassez que afeta milhões. Enquanto alguns se deleitam em banquetes e desperdiçam toneladas de alimentos diariamente, outros enfrentam a cruel realidade da fome. A ironia reside no fato de que a fome não é uma criação da natureza, mas uma consequência das escolhas e prioridades da humanidade.
“A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer.“
Essas palavras poéticas e angustiantes descrevem a experiência física e emocional da fome.
Enquanto a sociedade se entorpece com as distrações do álcool e se embriaga em efêmeros prazeres, os que sofrem com a fome morrem. Como se não bastasse, enfrentam uma tontura mais cruel, que não os impulsiona a canções alegres. Contudo, os faz tremer diante da privação e da angústia por qualquer alimento. A fome não é apenas a ausência de alimentos; é a negação da dignidade humana, uma violação brutal da essência mais básica do ser.
“A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.“
Esta declaração, frase-chave do texto, ressalta a importância de uma liderança empática e consciente da realidade vivida por muitos.
A fome, ao contrário de uma mera adversidade, é uma professora severa que ensina lições profundas sobre empatia, solidariedade e compaixão. Aqueles que experimentaram a fome compreendem as dores que ela inflige não apenas no corpo, mas também na alma. Tornar-se consciente das necessidades dos outros é uma lição valiosa que só a fome pode proporcionar.
O abismo social, especialmente no Brasil, ou em todo continente africano em relação ao planeta, só aumenta a cada avanço tecnológico.
Hipocrisia
A hipocrisia da humanidade diante da fome é evidente na disparidade entre os recursos disponíveis e a distribuição desses recursos.
Enquanto nações desenvolvidas desfrutam de um excesso de alimentos, outras lutam diariamente pela sobrevivência. A busca incessante por avanços tecnológicos e luxos muitas vezes obscurece a visão da verdadeira urgência que a fome representa. A humanidade, obcecada por aparências e modernidades, negligencia a essência de sua responsabilidade moral de garantir que todos tenham acesso à alimentação.
A erradicação da fome exige mais do que simplesmente disponibilizar alimentos; requer uma mudança profunda nas prioridades governamentais.
É um grande, talvez o maior, desafio que a humanidade pode superar, mas que, em muitos casos, opta por ignorar.
Evoluções
A Índia, por exemplo, envia expedição à lua e as pessoas não entendem, e aquele país possui um grande número de famélicos. Analogamente, o Brasil teve a destruição, literalmente, de seu programa espacial e a dependência tecnológica exterior aumenta.
As pessoas se perguntam porque este tema entra no texto da fome.
Certamente, as que fazem esta pergunta alimentaram-se bem desde quando acordaram. Eles ignoram os benefícios que programas espaciais e satélites causam para prevenção de desastres naturais e produção de alimentos.
Com toda a certeza, qualquer desenvolvimento tecnológico e econômico não pode ser um fim em si mesmo. E, como se não bastasse, não pode ser instrumento para saciar a fome do capitalismo e matar humanos.
Assim sendo, estes desenvolvimentos devem ser um meio para garantir que cada pessoa obtenha ao menos suas necessidades básicas.
Mundo moderno
Enfim, a fome, como miséria impiedosa, não apenas clama por intervenções imediatas. Desse modo, clama também pela criação de sistemas sustentáveis que promovam a igualdade de acesso à alimentação.
Programas educacionais e conscientização são ferramentas cruciais para combater a ignorância que perpetua a desigualdade alimentar. A humanidade deve reconhecer a interconexão de suas ações e entender que a fome de alguns é uma afronta a todos.
Defender programas como “renda mínima“, “bolsa-família” e outros auxílios à alimentação básica deveria ser obrigação de todos.
Em um mundo onde a tecnologia atropela a todos, é imperativo que voltarmos a atenção para as questões fundamentais que afetam a existência humana.
A fome não é apenas um problema distante; é uma chaga que compromete a integridade moral de toda a sociedade. Superar a hipocrisia e agir em prol da erradicação da fome é um passo essencial para construir um mundo de dignidade humana.
Carolina Maria de Jesus sofreu na própria pele todas as questões que vemos avançar no país e no mundo. Escreveu poemas que merecem divulgação e compreensão.
“Assombração”
Depois de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguém pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!Poema de autoria de Carolina Maria de Jesus
A verdade e a realidade é uma assombração que aparece somente quando queremos ser quem não somos e o agro não é pop.
(1) “A escrava Madalena e o segredo dos Milagres Rigueira”
(2) “Entre sem bater – Eduardo Galeano – A Caridade”
(3) “Entre sem bater – Peter Kropotkin – Malthus”
Imagem: Entre sem Bater – Carolina Maria de Jesus – A Fome
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.