Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Uma “Teoria Única” nunca foi algo que abonasse o conhecimento e capacidade de uma pessoa. Karl Popper provou esta e outras teorias, com louvor.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Karl Popper
Karl Popper foi um filósofo contemporâneo muito “fora da curva”. Suas teorias sobre falsificação empírica, evolução do conhecimento, crítica ao irracional, dogmas e crenças são lapidares. Certamente, estas teorias não estão presentes em nenhuma escola de educação básica. É provável que a revolução que estes alunos provocariam ao crescerem e passarem à adolescência seria memorável. Infelizmente, a nossa sociedade optou pela tirania(1) educacional desde o berço. Popper provou que a teoria única é um dos maiores males da sociedade moderna.
Sir Karl Raimund Popper CH FRS FBA ( 28 de julho de 1902 – 17 de setembro de 1994) foi um filósofo, acadêmico e comentarista social austro-britânico. Um dos filósofos da ciência mais influentes do século XX, Popper é conhecido por sua rejeição das visões indutivas clássicas sobre o método científico em favor da falsificação empírica. De acordo com Popper, uma teoria nas ciências empíricas nunca pode ser provada, mas pode ser falsificada, o que significa que pode (e deve) ser examinada com experimentos decisivos. Popper se opôs à explicação e justificação clássica do conhecimento, que ele substituiu pelo racionalismo crítico, ou seja, “a primeira filosofia não justificacionista da crítica na história da filosofia”.
Fonte: Wikipedia (inglês)
A Teoria Única
Eu posso afirmar que, inquestionavelmente, a teoria de que filosofia não serve pra nada é uma insanidade. Só tive contato com a filosofia após muitos anos de estudo, na faculdade, em disciplinas superficiais e sem conexão com o curso. Entretanto, foi o suficiente para encontrar respostas para um monte de dúvidas.
Descobri algumas aptidões no mundo da lógica muito antes de entender os rudimentos da filosofia. Ainda no ensino médio, estudei circuitos lógicos e binários e iniciei no que chamam de informática e a filosofia estava presente. Pode parecer estranho mas os maiores criptógrafos são também matemáticos e filósofos.
Desse modo, quando fui instrutor de disciplinas de programação de computadores, os alunos não entendiam o texto “O Amor É uma Falácia“(*). Da mesma forma, os adeptos da teoria única mostram-se céticos a tudo que não lhes agrada, o que é o cenário das redes sociais. A frase-chave de Popper está na obra “Conhecimento Objetivo: Uma Abordagem Evolucionária (1972)”. Com toda a certeza, ele não imaginava o poder das redes sociais e o estrago ao conhecimento objetivo na atualidade.
Perdemos ou tem alguma solução paliativa?
Conhecimento Objetivo
Anteriormente, em 1972, Popper argumentou que muitos se agarram à teoria única para explicar todos os fenômenos próximos de um evento principal. A frase exemplifica o cenário da época, como se expandiu, firmou-se e se intensificou nos dias atuais. Esse pensamento, formulado há mais de 50 anos, tem ressonâncias profundas nos tempos modernos. Neste contexto, as redes sociais, de teorias simplistas e únicas, amplifica-se de maneira incontrolável e insana. O conhecimento objetivo de 1972 exigia alguns comportamentos, que deveriam receber um aprimoramento para os tempos atuais, #SQN.
O Contexto de 1972
Nos anos 1970, Popper estava preocupado com o crescimento do que ele chamou de “historicismo”. Era uma teoria para explicar o curso da história e da sociedade a partir de uma única narrativa, seja ela marxista, freudiana ou qualquer outra. A princípio, Popper dizia que a ciência e a filosofia deveriam evitar teorias que prometem uma solução única e universal para todos os problemas. A realidade é complexa, e qualquer tentativa de reduzi-la a uma única explicação corre o risco de se transformar em dogmatismo.
Na visão de Popper, a ciência e tecnologia avançam por meio da formulação de hipóteses que devem sofrer testes e refutações. Contudo, a adesão cega a uma teoria que supostamente explica tudo, digna de dogmas e crenças apodreceu a sociedade. Ele alertou contra a tentação de adotar uma “solução universal” para situações aparentemente iguais. Afirmou, inquestionavelmente, que aqueles que tinham uma teoria única que resolve todos os problemas mostram sua ignorância e soberba. Em outras palavras, eles não compreenderam nem a teoria nem os problemas diversos em questão.
O que Popper ressaltava era a importância da atitude crítica e da disposição para revisar e abandonar teorias à luz de novas evidências. Por outro lado, reforçava a oposição à rigidez e preguiça mental(2) de quem se apega a uma única explicação.
O Fenômeno da Teoria Única nas Redes Sociais
A crítica de Popper se aplica, atualmente, com muita força, na explosão dos ambientes e plataformas das redes sociais. As plataformas digitais transformaram-se em arenas onde teorias simplistas e unificadoras dominam o discurso. Esse tipo de teoria única, como as conspirações ou as narrativas ideológicas promovem, frequentemente, um senso comum irreal. A incapacidade de resolver problemas complexos da teoria única prevalece por sua facilidade de compreensão e por mobilizar emoções.
A viralização de informações nas redes sociais ocorre em um ritmo e em uma escala sem precedentes. As teorias que mais se espalham são aquelas que oferecem uma explicação simplista para questões complexas. Por isso, uma teoria única fornece uma pretensa resposta clara e definitiva em um mundo que é, na realidade, incerto. O perigo, conforme alertou Popper, é que a adesão a uma teoria única leva a uma compreensão superficial das ideias e dos problemas reais.
Além disso, os algoritmos das redes sociais tendem a reforçar as visões de mundo preexistentes dos usuários, criando bolhas de informação. As pessoas sob exposição de conteúdos que confirmam suas crenças, tendem a negligenciar a reflexão. Isso fortalece ainda mais a crença de teoria única, uma vez que os indivíduos raramente refletem sobre perspectivas contrárias.
Desta forma, a crítica de Popper à adesão da teoria única é mais relevante do que nunca. A atitude crítica, que ele considerava essencial para o progresso científico e social, se torna igualmente vital no contexto contemporâneo. A diversidade de perspectivas sofre, sem dúvida, perdas e sacrifícios, em nome da simplicidade e da certeza pueril e teórica.
Atitude Crítica e Ideia Fixa
Karl Popper tinha uma ideia fixa e nos alertou para os perigos de aderir cegamente à teoria única. Esse alerta deveria ressoar com força muito superior nestes tempos modernos. Em um mundo com polarização(3) e domínio de narrativas simplistas nas redes sociais, é essencial recuperar o espírito crítico que Popper defendia.
A teoria única pode ser atraente por sua clareza e simplicidade, mas a realidade é complexa e implacável. O verdadeiro conhecimento exige uma disposição para questionar, revisar e, quando necessário, abandonar teorias únicas.
Em suma, o pensamento de Popper nos desafia a adotar uma postura de humildade intelectual. Devemos reconhecer que nossas teorias são, na melhor das hipóteses, aproximações imperfeitas de possíveis soluções de problemas. Assim sendo, devemos ter disposição para aceitar a complexidade do mundo e a participar de um processo contínuo de aprendizagem e crítica. Isso é particularmente importante nas redes sociais que amplificam as vozes daqueles que promovem teorias únicas e lacrações insanas. Afinal, a capacidade de pensar criticamente é mais necessária e relevante do que nunca.
Essa gente de teoria única que torce para a própria opinião deveria dar um tempo, para o bem da humanidade e civilidade.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) O texto “O Amor é Uma Falácia” é sobre a lógica e a filosofia. Contudo, remete às questões mundanas de uma sociedade complexa, com orientação a objetos.
(1) “Entre Sem Bater – Miguel de Unamuno – Tirania Odiosa“
(2) “Entre Sem Bater – Liz Hurley – Preguiça Mental“
(3) “Entre Sem Bater – Brenda Lee – Polarização e Ruína“
Imagem: Entre sem Bater – Karl Popper – A Teoria Única
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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