Entre Sem Bater - Walter Lippmann - O Influenciador

Entre Sem Bater – Walter Lippmann – O Influenciador do Mal

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Walter Lippmann foi um “Influenciador” ao seu modo e no seu tempo, atualmente estaria num enrosco para defender suas ideias..

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Walter Lippmann

Frases sobre um ou outro influenciador estão começando a aparecer. Entretanto, a figura e o papel do influenciador, com este nome, não é nova. Lippmann era um crítico de alguns que praticavam o proselitismo, e sua frase serve como uma luva para as bolhas dos Influenciadores. Podemos afirmar, sem dúvida, que mudou o nome e a velocidade com que os influenciadores manipulam hordas e néscios. Admiro e utilizarei pensamentos como os de Lippmann, sobretudo pelos posicionamentos e trabalho. Em suma, não é por acaso que os jornalistas ganhadores de prêmios Pulitzer diferenciam-se do resto.

Walter Lippmann (23 de setembro de 1889 – 14 de dezembro de 1974) foi um escritor, repórter e comentarista político americano. Com uma carreira de 60 anos, ele é famoso por estar entre os primeiros a introduzir o conceito de Guerra Fria, cunhando o termo “estereótipo” no sentido psicológico moderno, bem como criticando a mídia e a democracia em sua coluna de jornal e em vários livros, principalmente em sua Opinião Pública de 1922. Lippmann também desempenhou um papel notável como diretor de pesquisa do conselho de inquérito de Woodrow Wilson pós-Primeira Guerra Mundial . Suas opiniões sobre o papel do jornalismo em uma democracia foram contrastadas com os escritos contemporâneos de John Dewey no que foi retrospectivamente chamado de Debate Lippmann-Dewey. Lippmann ganhou dois Prêmios Pulitzer, um por sua coluna de jornal sindicalizada “Today and Tomorrow” e outro por sua entrevista de 1961 com Nikita Khrushchev.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Um Influenciador

Nos tempos bíblicos, os profetas subiam aos montes para falar com Deus. Hoje, muitos sobem aos palcos, às tribunas e às timelines, falando em nome Dele. Mas não é o Deus do amor, do acolhimento ou da compaixão que os move — é o da vaidade, do controle e do poder. Entre eles, destaca-se uma figura emblemática: o pastor Silas Malafaia, que, mais do que um líder religioso, tornou-se um personagem símbolo do que se convencionou chamar, no novo milênio, de “influenciador do mal”.

A produção audiovisual Apocalipse nos Trópicos(*) expõe com crueza esse arquétipo. A apresentação de Malafaia não  apenas como um pastor evangélico. É, outrossim, uma usina de discursos odientos, uma engrenagem central de um sistema que mistura fé, política e desejo de dominação. Seu púlpito não é apenas altar — é palanque. Sua pregação não é só espiritual — é militar, no sentido mais literal e perigoso do termo.

O que a obra cinematográfica revela — e o que muitos já suspeitavam — é o quanto esse influenciador atua no inconsciente coletivo. E pior: como essa influência ganhou contornos de algo quase apocalíptico. O “influenciador do mal” não vende cosméticos nem moda de praia. Ele vende medo, e seu “funil de vendas” rende muito dinheiro e ostentação.

Púlpito digital

O novo padrão de púlpito é digital, mas o veneno que ele destila é antigo.

Malafaia, assim como outros influenciadores religiosos ou políticos de extrema direita, construiu uma base fiel de néscios. Em outras palavras, difundiu o sentimento de insegurança para o brasileiro médio. Implementou o medo da criminalidade, da “degeneração dos valores”, da perda do controle sobre a própria vida, venceu. Ele canaliza esse medo e oferece respostas simples para problemas complexos. Desta forma,  “a culpa é dos gays, das feministas, da esquerda, do comunismo”, e todos acreditam. Uma narrativa perfeita para quem procura bodes expiatórios e desculpas para a ignorância coletiva..

Mas ele não atua sozinho. Ele é só a face mais visível de um ecossistema de microinfluenciadores, blogueiros radicais, youtubers extremistas e deputados de Instagram. Todos, sem exceções, reproduzem a mesma lógica: polarizar, simplificar e atacar.

A “boa nova” desses tempos é uma velha prática: transformar o diferente em inimigo, uma estratégia antiga dos tiranos.

Fé e Política

Sair do púlpito para atingir o poder e levar junto seus seguidores é fácil. Um casamento entre a fé cega e a política obscura.

Assim sendo, não é à toa que tantos políticos cortejam Malafaia, como uma espécie de papa do Brasil evangélico. Ele tem voto de cabresto como nunca antes neste país alguém teve. Ele forma opinião ou induz seus seguidores a repetirem a sua opinião, de maneira ignorante. Ele acena com bênçãos que valem mais que um tempo de televisão. Sua influência foi determinante na eleição de líderes que fazem da intolerância uma bandeira — e da Bíblia, uma arma.

O discurso que antes era subliminar, hoje se tornou explícito. Já não se fala mais em “salvar almas” — fala-se em “guerra cultural”, “combater a cristofobia”, “defesa da família”. E, certamente, em tons cada vez menos figurativos, “extermínio do mal”, “eliminar os diferentes”. E quem é o mal? O homossexual, o ateu, o artista, o jornalista, o professor — todos que, de algum modo, desafiam o dogmatismo e o autoritarismo.

Em cenas emblemáticas do documentário, Malafaia aparece incentivando a ira e naturalizando o ódio. Em diversas passagens, ele inflama seus seguidores com frases de efeito que sugerem que é preciso eliminar os inimigos de Deus. Se antes isso se limitava ao campo simbólico, hoje há quem leve isso ao pé da letra. Tornou-se comum ver o sangue derramado nas ruas, nos becos, nos lares. Os casos crescentes de agressão, discriminação e assassinatos por homofobia e misoginia são a prova disso.

O influenciador não é uma novidade na sociedade. O que mudou foram os meios, a velocidade e o alcance da influência, para muito pior. Antes das redes sociais, personagens com esse papel já existiam, sob outras designações e atuando por outros canais de comunicação. Atualmente, qualquer idiota da aldeia, como definiu Umberto Eco, se transforma em um influenciador global em segundos.

Influenciador para matar

A palavra “influência” vem do latim influere/influentia, que significa “fluir para dentro”. Quando essa influência carrega preconceito, intolerância e violência, o que flui para dentro da sociedade é o caos. Parafraseando um ditado popular: você é aquilo que coloca pra dentro do seu corpo

A transformação de um líder religioso em um general de guerra ideológica desfigura o papel da fé na vida das pessoas. Como se não bastasse, cria um ambiente onde matar em nome de Deus parece aceitável. Já vimos isso na História, a Inquisição fez isso, fanáticos fazem isso. E, surpreendentemente, o nazismo instrumentalizou a Igreja para isso. O Talibã é uma espécie de influenciador que coloca as pessoas para fazerem isso. E, agora, muitos repetem o roteiro aqui mesmo, nos trópicos, para salvar suas famílias e destruir os “inimigos”.

Matar e exterminar, em nome de Deus e de Jesus, amém !

O ódio explícito

Há casos documentados de agressões que se iniciaram após discursos de ódio proferidos por pastores e deputados. Jovens expulsos de casa por se assumirem orientação sexual diferente da ideologia do pastor. Pessoas trans sendo  assassinadas em becos a pretexto de “limpar a sociedade”. Pessoas sofrendo humilhação pública por não seguirem a cartilha da moral cristã conservadora.

O Brasil lidera rankings de mortes por LGBTfobia. Coincidência? Difícil acreditar.

Os exemplos são inúmeros e podem ter confirmação nas manchetes dos jornais de cada cidade. E pensar que a maioria da população aceitou que a ideia de “todos terem uma arma em casa” era uma coisa boa. É provável que existam estatísticos, demógrafos e sociólogos que consigam provar estas teorias do apocalipse.

O “influenciador do mal” opera nesse terreno fértil: a ignorância travestida de fé. Ele não diz “mate”, mas sugere que até seu semelhante sofra algum tipo de extermínio. Ele não manda agredir, mas diz que “Deus abomina” e que “a sociedade precisa se purificar”.

A patuleia entende o recado, e sai agindo em nome de Jesus.

Fé, Lucro e Moral

Inquestionavelmente, quando a fé vira meio para o lucro e a moral se mede pela moeda e dízimos, algo não vai bem.

Desta forma, além do discurso, há o negócio, que está se tornando de pai para filho. Malafaia e outros líderes midiáticos constroem verdadeiros impérios financeiros em nome da fé. Vendem livros, cursos, eventos, influência política. São empresários da religião. E, surpreendentemente, não é nenhum pecado, se formos cínicos o bastante para dizer que tudo é mercado. Mas é um escândalo moral, se lembrarmos que o Cristo que pregavam era pobre, acolhedor e subversivo ao poder do reino.

A religião se torna, desse modo, uma fábrica de lealdade — e o medo, o combustível. E quem questiona, quem pensa, quem propõe o diálogo, será o “perseguidor de cristãos” ou um “instrumento do demônio”.

Romper um ciclo?

Um país guiado por influenciadores do mal é um país doente. E o Brasil parece caminhar por essa trilha sombria. Quando o púlpito se transforma em palanque, e a Bíblia em código penal, a democracia fica refém de fanáticos. A obra “Apocalipse nos trópicos” é um documentário que mostra a rota que a maioria da população está escolhendo. As eleições municipais recentes mostraram isso com a maior clareza possível.

A liberdade de expressão confunde-se com liberdade de opressão e de agressão e o desrespeito às leis dos homens. Quando um líder religioso — ou qualquer influenciador — usa sua visibilidade para justificar o preconceito, desafia a lei. Do mesmo modo, quando manipula multidões para incitar ódio e fazer proselitismo, ele deixa de ser um pastor ou comunicador. Em outras palavras, este tipo de influenciador é uma ameaça à qualquer sociedade minimamente civilizada.

Seria agora o momento de romper o ciclo destes influenciadores? Podemos dizer que passou muito da hora, entretanto, para recuperar o espaço do pensamento, do afeto, do diálogo, falta muito. Para os que são cristãos, é provável que seja a hora de lembrar do seu Deus. E, como se não bastasse, se ele existe, é hora de saber que ele não veste farda e nem carrega megafone. Ele estaria pregando o silêncio e o respeito ao próximo, independente de raça, gênero e credo.

Porque todo influenciador tem um público, mas o público não precisa ser sempre um rebanho.

Velhos Influenciadores

Com toda a certeza, o que conhecemos como influenciador (influencer) não é uma novidade na nossa sociedade. Anteriormente, muito antes das redes sociais, existiam estes personagens com os meios de comunicação disponíveis. Desta forma, desde os filósofos pré-socráticos, já se falava sobre estes personagens e os malefícios que eles carregavam. Estes aproveitadores trazem, potencialmente, para a sociedade e humanidade muitos males. O maior destes males é, sem dúvida, influenciar a capacidade de pensar de cada pessoa.

Pré-História

Anteriormente, antes da explosão da sociedade digital, as referências que tínhamos eram mais ou menos as seguintes:

Nome Antigo Papel exercido Meio de influência predominante
Formadores de opinião Influenciar ideias e comportamentos Jornais, rádio, televisão, revistas, organizações locais
Celebridades Referência de comportamento e consumo Televisão, cinema, rádio, revistas, eventos políticos, publicidade
Intelectuais públicos Opinavam e pautavam discussões sociais e políticas Jornais, ensaios, debates públicos, entrevistas na mídia
Religiosos midiáticos Doutrinavam e mobilizavam massas Rádio, TV, púlpitos, templos
Publicitários e propagandistas Propaganda e marketing de produtos e estilos de vida TV, revistas, outdoors, rádio, propaganda e marketing

Em suma, o fenômeno dos influenciadores(1) sempre existiu, adaptando-se aos meios de comunicação em cada época. O perigo maior que os pensadores apontam é o de que, ao invés de promoverem reflexão, impõem sua opinião. Atuam, primordialmente, em benefício próprio, e demonstram algo que nunca foram. Hipocrisia pura !

Esses personagens, inquestionavelmente, atuam como agentes de conformismo, consumismo, ou da superficialidade. Suprime-se a capacidade de pensar criticamente — um dos pilares da autonomia humana. A  repetição, o ruído, a sedução de ideias fáceis e prontas, além das mentiras (fake news) está vencendo.

Enfim, a história constante no  primeiro “capítulo” da produção “Apocalipse nos trópicos” é a realidade nua e crua que vivenciamos. E nem adianta querer nos desviar da imbecilidade(2), pois ela pode estar dormindo na sua cama. Parece que, neste momento da história do povo brasileiro, é mais fácil este tipo de homens sórdidos(3) vencerem de goleada.

Perdemos?

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  A produção (filme), disponível na plataforma Netflix, é a fonte de inspiração deste e de outros textos da trilha “Entre Sem Bater”.

(1) “Entre Sem Bater – Bo Burnham – Os Influenciadores

(2) “Entre Sem Bater – Fernanda Young – Desviando da Imbecilidade

(3) “Entre Sem Bater – Lô Borges – Homens Sórdidos

 

Imagem: Entre sem bater – Walter Lippmann – O Influenciador do Mal

Nota do Autor

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