Entre sem bater – Günther Anders – O Poder da Ideologia

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Günther Anders conseguiu, através da expressão “Poder da Ideologia“, mostrar como duas palavras poderosas ficam superpoderosas.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Günther Anders

O filósofo alemão contemporâneo, em sua obra “A obsolescência da humanidade“, deu um soco forte no estômago das pessoas. Desse modo, colocou às claras muito do que vivenciou, e pode mostrar como as tecnologias e a mídia exercem influência sobre as pessoas. Surpreendentemente, a maioria dos que se julgam em conexão com o planeta não passam de massa de manobra⁽¹⁾. Inquestionavelmente, o poder da ideologia, seja ele qual for, está vencendo de goleada todas as possibilidades de evolução.

Günther Anders (nascido Günther Siegmund Stern , 12 de julho de 1902 – 17 de dezembro de 1992) foi um filósofo, jornalista e teórico crítico. Nasceu na Alemanha e formou-se filósofo na tradição fenomenológica, obtendo seu doutorado com Edmund Husserl em 1923. Trabalhou como jornalista no Berliner Börsen-Courier. Mudou seu nome Stern para Anders, contudo acabou fugindo do nazismo, com destino aos Estados Unidos. De volta à Europa na década de 1950, publicou seu principal livro, The Obsolescence of Humankind, em 1956. Uma parte importante da obra de Gunther Anders centra-se na autodestruição da humanidade, através de uma meditação sobre o Holocausto e a ameaça nuclear. Anders desenvolveu uma antropologia filosófica para a era da tecnologia. Lidou com outros temas como os efeitos da mídia de massa em nossa existência emocional e ética. Como se não bastasse, tratou de temas como a falta de lógica da religião e a questão de ser um pensador. Ele recebeu o Prêmio Sigmund Freud pouco antes de sua morte, em 1992.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

O Poder da Ideologia

O poder da ideologia, dentro da proposta de que a humanidade está em obsolescência, deveria provocar profundas reflexões. Entretanto, as pessoas em conexão através das redes sociais não entendem muito bem o conceito de quatro palavras:

• Poder
• Ideologia
• Obsolescência
• Humanidade

Günther, com toda a certeza, escreveu sua obra quando a tecnologia do pós-guerra, começava uma trajetória inimaginável 70 anos depois. Até poucas décadas atrás, grandes pesquisadores diziam que não haveria espaço para mais de cinco grandes computadores. Ou que grandes corporações, como a IBM, deixariam seus projetos de microcomputadores para outras empresas de garagem.

Sim, as pessoas que não entendem estes termos, separadamente, terão enormes dificuldades em juntar tudo e ainda incluir tecnologias, no plural.

Ideologia e o Poder

Devemos entender, acima de tudo, que uma ideologia é um conjunto de ideias e crenças que orientam o comportamento de um indivíduo ou grupo. Desse modo, uma ideologia pode ser religiosa, política, filosófica ou cultural, abrangendo todas as classes sociais, numa babel. E uma ideologia se torna mais perigosa se seu eixo temático mistura-se com outro eixo. Por exemplo, defendo a teoria de que ao misturar-se política com religião, o poder que alguém exerce em uma área, contamina a outra.

O uso destas ideologias tem poder sem limites, pois podem, desse modo, manipular e  influenciar a maneira como as pessoas pensam e agem. Como se não bastasse, com a avalanche das redes sociais, existe a prática de inibir as pessoas de pensarem ou sentirem o que reproduzem. A opinião de segunda mão⁽²⁾, tão comum nos compartilhamentos nas redes sociais, virou uma epidemia sem tratamento ou cura.

Silêncio e o Poder

A frase de Günther sugere que as ideologias são mais poderosas quando elas são capazes de silenciar outras vozes e perspectivas. Desse modo, o poder da ideologia cria a falácia do senso comum⁽³⁾. Assim sendo, as pessoas sentem-se desconfortáveis até para questionar as crenças que muitos julgam como “normais”.

Estas ideologias, inquestionavelmente, controlam as pessoas de várias maneiras, algumas cruéis ou com a arte da enganação. Por exemplo, ideologias justificam guerras, a opressão e a violência de humanos contra outros humanos. Podem também manipular as pessoas, fazendo com que elas acreditem em coisas que não são verdadeiras (as fake news estão aí).

Ao longo da história, várias ideologias emergiram e exerceram um controle significativo sobre as pessoas e suas sociedades. Cada ideologia tem suas próprias premissas e objetivos, e busca persuadir e convencer as pessoas a adotarem visões peculiares do mundo. No entanto, o verdadeiro poder de uma ideologia está no número de respostas que pode fornecer para as questões existenciais e sociais. Desta forma, o poder da ideologia se fortalece pela capacidade de silenciar outras perspectivas e questionamentos que ameaçam seus princípios.

Enfim, um exemplo notável no Brasil, hoje, se pergunta a um defensor da “ideologia de gênero“, onde existe alguma literatura sobre o tema. Alguns chavões como este, como “Foro de São Paulo” e outros tantos não são dignos de uma resposta com qualidade e razão.

Seja em qualquer assunto, num ambiente democrático, deve existir abertura para perguntas e respostas, senão não é democracia.

Supressão Guiada

Infelizmente, no Brasil, sobretudo nos últimos seis ou oito anos, a falta de transparência e supressão do contraditório esteve no comando. E, como se não bastasse, todos os poderes e esferas públicas, e também nas organizações privadas, o obscurantismo prevalece. O poder da ideologia capitalista, do individualismo e das oligarquias, que domina o país desde o descobrimento, venceu.

Ao suprimir questionamentos, uma ideologia se torna uma narrativa dominante, moldando a maneira como as pessoas enxergam o mundo ao seu redor. Assim sendo, cria-se um conjunto de crenças e valores que passam a ser inquestionáveis. Portanto, qualquer desvio dessas premissas ou questionamentos incômodos, é uma ameaça ao status quo.

A supressão de questões é um mecanismo pelo qual uma ideologia busca manter seu poder e controle sobre a sociedade. Desta forma, a ação impositiva limita a capacidade das pessoas de pensar criticamente e questionar a aplicação da ideologia.

A supressão da oposição pode estabelecer-se através de um sistema de crenças rígido, que veda certas perguntas, tabu ou dogmáticas. Essas questões que representam uma ameaça à ideologia e à autoridade estabelecida não têm espaço numa democracia e debate. Por isso, cria-se um ambiente em que a liberdade de pensamento é restrita e os indivíduos sofrem coação para aderir à ideologia dominante.

Como se não bastasse, outra forma de supressão de questionamentos é através do controle da informação e do discurso ou narrativas. O monopólio dos canais de comunicação e disseminação de conhecimento, filtrando ou censurando informações é parte da estratégia. Desta forma, limita-se a exposição das pessoas a diferentes perspectivas e impede que elas formem suas próprias opiniões.

Através desse controle da narrativa e dos canais de comunicação, a ideologia suprime possíveis ameaças à sua hegemonia.

Sociedade Saudável

Inquestionavelmente, uma sociedade saudável e progressista é aquela que promove a liberdade de pensamento. Incentivar o debate aberto e acolher uma diversidade de perspectivas é, a princípio, o melhor caminho. Entretanto, não se deve confundir liberdade de pensamento e de expressão com agressões e fake news sem controle. O poder de uma ideologia deve estimular o diálogo, a reflexão e o crescimento intelectual.

O poder das ideologias em todos os ramos do conhecimento deve ter mecanismos e preparação para o questionamento. Do mesmo modo que a ciência sempre está aberta ao debate e/ou confirmação de seus pares ou debatedores. Surpreendentemente, isso é relevante e importante em uma era em que a informação está disponível com abundância. Se bem que as pessoas sofrem um bombardeio de informações e pode ser impossível discernir o que é verdadeiro e o que é falso.

Entretanto, atualmente, algumas atitudes são essenciais para questionar as ideologias e pensar sobre elas:

• Deve-se estar aberto a diferentes perspectivas e não tomar suas crenças como definitivas.
• Pesquisar e refletir sobre as diferentes visões de um argumento, sem confiar em apenas em uma fonte de informação.
• Devemos ser críticos com tudo que lemos e ouvimos, sem aceitar tudo o que lhe dizem como se fosse a verdade.
• Estar atento a novas informações que contradigam suas crenças, mesmo as que acaba de receber, e avaliar a mudança de ideia.

Desse modo, quando as pessoas são capazes de pensar criticamente, elas são menos propensas à manipulação. Outrossim, elas também são mais propensas a exigir mudanças quando algo está errado ou não atende o coletivo.

Pensar criticamente

Com toda a certeza, o poder das ideologias é real e está no controle do mundo virtual, mas ele não é absoluto. Mesmo em minoria, muitas pessoas têm o poder de questionar as ideologias e de propor novas maneiras de pensar. É provável que, ao fazer isso, muitos podem transformar ou construir uma sociedade mais justa e igualitária. Por outro lado, podem sofrer ataques por todos os lados e de maneira cruel, quase sem defesa.

Uma questão para reflexão:

Ao ler este texto integralmente, é possível confiar em tudo que aqui está escrito, desde as fontes de informação até a fundamentação da minha opinião?

Todas as contestações ao meu texto terão total recepção, entretanto, os paralogismos e falácias somente receberão a minha indulgência.

Reflita !

 

⁽¹⁾ “Manipulação de Massas – A Série”

⁽²⁾ “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão”

⁽³⁾ “Senso comum e a manipulação de massas”

 

Imagem: Entre sem bater – Günther Anders – O Poder da Ideologia 

Nota do Autor