Entre sem bater - Betinho - Análise de Conjuntura

Entre sem bater – Betinho – Análise de Conjuntura

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Betinho estava mais do que certo sem seu “Como se faz Análise de Conjuntura“, mas as redes sociais ferraram muita coisa.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Betinho

As atividades que Betinho protagonizou ou esteve envolvido falam pela pessoa e pela sua capacidade de ação. A sua pequena grande obra – Como se faz Análise de Conjuntura – revela toda a sua qualidade acadêmica e intelectual. Na verdadeira acepção da palavra, era um sociólogo daqueles que não se fazem mais.

Herbert José de Souza, o Betinho, nasceu no norte de Minas Gerais e, junto com seus dois irmãos – o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, herdou da mãe a hemofilia, e desde a infância sofreu com outros problemas, como a tuberculose. Integrou a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JUC (Juventude Universitária Católica). Foi um dos fundadores da AP (Ação Popular). Graduou-se em 1962 em Sociologia na FACE da  UFMG). Durante o governo de João Goulart defendeu as reformas de base, sobretudo a Reforma Agrária. Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura e com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile. Posteriormente morou no Canadá e no México. Foi homenageado como “o irmão do Henfil” na canção “O Bêbado e a Equilibrista“, de João Bosco e Aldir Blanc. Anistiado em 1979, voltou ao Brasil. Em 1981, fundou o IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, Betinho também integrou as forças que resultaram no impeachment de Fernando Collor de Mello. Teve no projeto “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida“, sua maior projeção nacional. Betinho morreu em 1997, já bastante debilitado pela AIDS.  Em 18 de agosto de 2010, a Comissão de Anistia concedeu à família de Betinho uma indenização em razão da perseguição política sofrida por ele durante a ditadura militar.

Fonte: Wikipedia (Português)

Análise de Conjuntura

Em meados dos anos 1980, Herbert de Souza publicou uma obra que teve mais de 34 edições(*) mas não entrou na mente dos brasileiros. Certamente, a proposta de análise de conjuntura que o Betinho apresentou 40 anos atrás ainda estão atualizadíssimas. Contudo, devemos considerar que todas as suas sugestões e orientações, devem sofrer uma reformulação completa. É provável que alguns tópicos não estejam adequados às novas tecnologias e às formas de comunicação avassaladoras das redes sociais.

Betinho, com toda a certeza, teria muito trabalho para explicar à atual geração X que o mundo evoluiu por um lado e retrocedeu por outro. Desde que escreveu sua obra, o Brasil passou por muitas mudanças e instalou-se uma democracia guiada. Mesmo que não seja o ideal, inquestionavelmente, esta democracia é muito melhor do que os tempos sombrios dos porões militares.

Entretanto, como temos , desde a democratização, eleições de dois em dois anos, é necessário muita atenção com qualquer análise de conjuntura. Outrossim, é bom reafirmar que estes comentaristas dos canais de comunicação, inclusive redes sociais, não sabem o que ela significa.

Análise de Conjuntura Política

No atual cenário político brasileiro, uma análise de conjuntura precisa ir além da superfície, adentrando num emaranhado de teias. Temas como o controle político, as estratégias eleitorais e os campos de batalha que se tornaram pivôs da polarização no país. Desde que estouraram as manifestações de 2013 e a derrota da direita, no nível federal, em 2014, as máscaras caíram.

A partir das eleições de 2012, a influência das redes sociais e plataformas digitais já era perceptível. Embora muitos setores, inclusive progressistas, menosprezassem as tecnologias e a Internet, muita gente ruim tá aí, no poder. Em muitos casos, ao arrepio até da legislação eleitoral, que não se preparou para as mudanças, nos ofereceu um país conservador(1).

Desse modo, vamos, de maneira inequívoca, para mais uma eleição, sob a égide e comando das redes sociais. Por isso, é crucial compreender as perspectivas que moldarão o horizonte político do Brasil nos próximos anos.

Qualquer análise de conjuntura deve passar por avaliações consistentes de influência das tecnologias sobre:

  • Controle Político
  • Estratégias Eleitorais
  • Campos de Batalha
  • Confrontos e Polarização

Uma Dança Sutil

O controle político no Brasil é um mosaico complexo de alianças, disputas e barganhas. Desde a análise da obra de Betinho, estava presente a complexidade das alianças entre representantes de diferentes classes.

As relações entre Executivo e Legislativo, a influência de setores econômicos e os grupos de interesse são peças-chave nesse tabuleiro. Nesse contexto, a análise de conjuntura deve decifrar os movimentos estratégicos dos principais atores políticos e seus interesses subjacentes. Infelizmente, questões como a privatização, cuja abordagem sob a ótica das transnacionais na década de 80, tiveram enorme desconsideração.

A dança sutil destas alianças prejudicou, nos últimos 40 anos, somente os que estão nas categorias que mais precisam do Estado. As melhorias aparentes, como por exemplo na telefonia, beneficiam a todos. Contudo, o preço de uma assinatura de telefone é o mesmo para o rico e para o miserável.

O controle político continua nas mãos das mesmas oligarquias, e nos casos de rombos, como das Lojas Americanas, o povo vai pagar. Desse modo, a ascensão da polarização política no país acrescenta uma camada adicional a essa análise e ao debate sobre quem controla quem. Decerto, os que defendem as ideias liberais nunca perderam absolutamente nada.

A disputa ideológica alimenta a fragmentação partidária, tornando as coalizões mais difíceis e as negociações mais tensas. A compreensão do controle político implica, portanto, mergulhar nas alianças e antagonismos que delineiam o cenário atual. Como se não bastasse, os mais espertalhões ficam trocando de sigla partidária, mas mantendo as benesses e os hábitos. E, os vassalos que fazem parte do estamento burocrático ou da camada de pelegos do poder(2), defendem seus donos.

O Jogo de Xadrez

A partir da dança sutil do controle político no país, especialmente depois da democratização, um tema continua forte na pauta: As estratégias eleitorais. Assim sendo, se muita coisa mudou desde o final da década de 80, constitucionalmente, as táticas de enganação permanecem.

As estratégias eleitorais desempenham um papel crucial na definição do futuro político do Brasil, assim como no passado. Por isso, os candidatos articulam discursos persuasivos que ressoem para uma população nas redes sociais.

Surpreendentemente, fatores como classe social, regionalismo e identidade cultural deixam de ser intransponíveis com as redes sociais. E, como se não bastasse, qualquer um que manuseie um telefone celular se considera incluído digitalmente e politizado. Desta forma,  a análise de conjuntura deve desvendar as estratégias adotadas pelos aspirantes ao poder, como um jogo de xadrez.

A polarização política, que atinge níveis quase ideológicos, impõe um desafio adicional às estratégias eleitorais. Candidatos precisam equilibrar a mobilização de seus seguidores ideológicas com a captação de votos em setores diferentes da sociedade. A eficácia dessas estratégias será determinante para a conquista de eleitores, a maioria de analfabetos políticos.

As estratégias eleitorais nas redes sociais são o componente-chave na análise de conjuntura pré-eleitoral.

A Polarização

O que, anteriormente, era uma estratégia para vencer o adversário – escolher o campo de batalha – agora tornou-se pura areia movediça. As redes sociais e mídias digitais são um campo de onde as regras não são claras o suficiente. E, por outro lado, não adiantam tentativas de regulamentação, pois os infratores estão dois passos à frente.

Os temas destes campos de batalha políticos no Brasil vão desde a economia até pautas sociais. Perpassam pelos debates sobre a democracia e o papel do Estado, de maneira superficial e falaciosa. A polarização política transformou esses campos em terrenos movediços, onde qualquer passo em falso tem implicações graves.

A análise de conjuntura deveria servir para examinar de perto as principais áreas de confronto e suas nuances. Entretanto, a superficialidade e a agilidade desnecessária ao debate tornam qualquer contenda inútil. Por exemplo, as demandas populares e os temas sensíveis acirram a polarização e elevam a superficialidade.

Se um agente policial morre vítima de uma arma nas mãos de um bandido, a extrema-direita vai acusar aqueles que defendem os direitos humanos. Nesse ínterim, escondem que a arma que matou o policial teve origem, provavelmente, na liberalização do uso de armas.

Temas  como a gestão da crise sanitária, as políticas ambientais, e as abordagens para a segurança pública habitam batalhas verbais inúteis. Entender as dinâmicas desses confrontos é essencial para antecipar as estratégias políticas que estarão nas pautas das eleições.

Olhar Crítico

Podemos dizer, enfim, que o cidadão que tem participação ativa no mundo digital, abriu mão, na sua maioria, do debate e reflexão. Conforme as estatísticas e documentários sobre as eleições recentes, a afinidade ideológica entre candidato-eleitor determina o voto. E, como se não bastasse, a maioria dos eleitores não assume sua responsabilidade depois de votar.

À medida que nos aproximamos das eleições, as perspectivas necessárias para uma análise de conjuntura revelam um panorama desafiador. A polarização, longe de ser uma mera dicotomia partidária, reflete divisões profundas na sociedade brasileira. Isso sugere que os candidatos de sucesso serão os que transcenderem as fronteiras ideológicas e dominarem as tecnologias.

Temas como a sustentabilidade ambiental, defesa dos povos originários não serão temas centrais nas estratégias eleitorais. Compreender as diferentes temáticas e perspectivas estará num patamar que dificilmente moldará o desfecho das eleições.

Conjuntura Tupiniquim

Navegando em fóruns, grupos e lendo textos sobre a conjuntura brasileira, fico, sem dúvida, com receio do que a polarização faz com o eleitor.

O eleitor brasileiro, em sua maioria, tornou-se passivo e nem reclama mais. É provável que esta passividade e inércia esteja presente da extrema-direita à extrema-esquerda. Entretanto, as eleições presidenciais deram mais fôlego para uns e arrefeceram o ânimo de outros.

A análise de conjuntura antes das próximas eleições no Brasil exige uma abordagem multidimensional. Controlar as nuances do jogo político, decifrar as estratégias eleitorais e mapear os campos de confronto são tarefas hercúleas. Contudo, são indispensáveis para quem busca compreender e ser partícipe do futuro político do país.

Em suma, num cenário de incertezas, desafios e novas tecnologias, a análise de conjuntura não apenas lança luz sobre o presente. Complexidades como o uso de inteligência artificial(3) e produção de conteúdos falsos projeta sombras sobre o futuro político do Brasil. As próximas eleições se apresentam como um teste crítico para a democracia brasileira.

A capacidade de navegar pelas complexidades certamente será determinante para a construção de um novo caminho… “Amanhã tem mais …

P. S.

(*)  Como se faz Análise de Conjuntura, Betinho – Editora Vozes, 2014, 34a. ed. ISBN 978-85-326-0091-2 – 56 páginas .

 

(1) “Entre sem bater – Lília Schwarcz – País Conservador

(2) “Entre sem bater – Karl Marx – O Poder Político

(3) “Entre sem bater – Stephen Hawking – Inteligência Artificial

 

Imagem: Entre sem Bater – Betinho – Análise de Conjuntura 

Nota do Autor

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