Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Eventualmente, devemos entender o fino humor de algumas pessoas, como de Virginia Woolf e sua aversão por ler um “Romance“.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Virginia Woolf
É provável que a maioria dos leitores, seja de um romance ou outro texto, nunca se deu conta do que disse Virginia Woolf. Com toda a certeza, algumas frases que entram em listas de famosas, contém um humor refinadíssimo e exigem muita reflexão. Em vários casos, como o que temos em muitos exemplos, é preciso explicar, e até desenhar.
Adeline Virginia Woolf ( nascida Stephen; 25 de janeiro de 1882 – 28 de março de 1941) foi uma escritora inglesa. Ela é considerada uma das mais importantes autoras modernistas do século XX e pioneira no uso do fluxo de consciência como dispositivo narrativo. Woolf começou a escrever profissionalmente em 1900. Durante o período entre guerras, Woolf foi uma parte importante da sociedade literária e artística de Londres. Em 1915, ela publicou seu primeiro romance, The Voyage Out, pela editora de seu meio-irmão, Gerald Duckworth and Company. Woolf tornou-se um dos temas centrais do movimento de crítica feminista da década de 1970. Suas obras, traduzidas para mais de 50 idiomas, atraíram atenção e comentários generalizados por inspirarem o feminismo. Woolf é reverenciada em estátuas, sociedades dedicadas ao seu trabalho e um edifício na Universidade de Londres.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Um Romance
Anteriormente, escritores eram poucos, leitores eram milhões, e as dificuldades de encontrar leitores determinavam até fortunas. Com toda a certeza, editores e profissionais de marketing ficaram mais ricos do que a maioria dos escritores. O mundo moderno(1) (das redes sociais) mudou o jogo, agora quem escreve pouco fica mais rico do que qualquer editor ou escritor. Pobre coitado do escritor de romance que sofria com leitoras como Virginia Woolf.
Entretanto, algumas ideias de Woolf para justificar sua aversão fazem, agora, muito sentido e pode ser o motivo subliminar de uma mudança de eixo. É provável que o sucesso dos textos de perfis de redes sociais esteja no milagre do fluxo de consciência que inebria mentes doentes(2).
Fluxo de Consciência
Fluxo de consciência é uma técnica que os escritores utilizam para atrair as pessoas e alinharem pensamentos. Com toda a certeza, especialistas em psicologia que lerem esta frase estarão praguejando contra mim. Contudo, a frase de Virginia sobre ler um romance e sua apropriação a este dispositivo narrativo justifica minha ousadia. É provável que Woolf não gostasse de ler um romance para que todos não soubessem de seus segredos.
A ideia de que este dispositivo, que muitos escritores utilizam, não seja tão fictício, mesmo num romance pretensamente de ficção. A maioria dos escritores coloca em suas crônicas e contos muito daquilo que vivenciaram, por quê não seria com um romance. Desse modo, é importante o destaque da frase de Woolf e, analogamente, fazermos uma transposição para as redes sociais atuais.
Sequestrando a Realidade
Parafraseando Virginia Woolf, nada me faria ler textos de plataformas digitais que não fosse para ganhar dinheiro. Com toda a certeza, detesto textos vazios perfis de escritores de 280 caracteres. Por isso, a maioria dos textos da série “Entre Sem Bater” usam frases reais, para combater a tirania e a ficção das redes sociais.
Entramos em um mar de hashtags e curtidas, por onde navegam estes pseudoescritores da era digital, tecendo seus monólogos interiores. Com toda a certeza, uma boa parcela deles ficam milionários e sua ostentação inebria milhões de leitores neófitos.
O fluxo de consciência, outrora restrito às páginas de um romance, agora se derrama em stories(*) e posts em plataformas efêmeras e superficiais. E, desta forma, moldam as narrativas de uma geração ávida por atenção e validação.
Ficção x Não-Ficção
Nesse novo palco, a fronteira entre o real e o ficcional se torna tênue e apresenta-se atrás de máscaras como da verdade x mentira. A vida de uma pessoa se transforma em espetáculo que não passa de fantasia ou ficção pessoal. Como se não bastasse, a busca por seguidores fiéis se assemelha à construção de um culto à personalidade. Os “escritores de bobagens“, como os chamo, proliferam, tecendo teias de superficialidade com palavras vazias e manipulações.
Seus seguidores, hipnotizados pela ilusão de perfeição e sucesso, anseiam por replicar os passos de seus ídolos digitais. A originalidade se perde na busca por imitação, e a criatividade se rende à tirania da opinião popular. Autenticidade e reflexão crítica vão para a imolação em nome de uma virilidade efêmera.
Em meio a esse turbilhão, a leitura crítica e profunda se torna cada vez mais rara. Obras de não-ficção, que outrora nutriam o intelecto e incitavam o debate, perdem espaço para ficções pueris que alimentam o escapismo e a alienação.
A literatura clássica, outrora farol de conhecimento e sabedoria, está num segundo plano, muito aquém do que precisamos. Histórias fantasiosas substituem romances que exploram a complexidade da psique humana. As fantasias e ficções substituem os desafios e a realidade da sociedade atual. Desta forma, o crescimento individual supera por milhões de cliques qualquer desenvolvimento coletivo.
Tirania Non Sense
A tirania da bobagem e da insanidade nas redes sociais não se limita ao mundo virtual e invade nossa realidade. Surpreendentemente, seus efeitos se infiltram em todos os cantos da sociedade, moldando a forma como pensamos, sentimos e agimos. A superficialidade se torna o novo padrão, e a busca por pensamentos consistentes se torna cada vez mais árdua.
É urgente resgatar o valor da leitura crítica e profunda, mesmo que resultante de um fluxo de consciência. Retornar a leitura de obras que nos desafiam (romance, você não !), que nos convidam a refletir sobre a realidade. É provável que, até mesmo em ficção e literatura romântica, possamos obter respostas para as grandes questões da vida. Afinal, o autoconhecimento é uma fonte primária de realidade de indivíduos e grupos de afinidade.
Nesse processo confuso e em constante transformação, o resgate da educação possui um papel fundamental. É necessário estimular o senso crítico nas novas gerações, ensinando-as a discernir o joio do trigo nestas redes sociais.
É preciso incentivar a busca por conhecimento e sabedoria, valores que transcendem a superficialidade da era digital. Assim sendo, poderemos romper as correntes da tirania da bobagem e construir uma sociedade com mais humanos e menos algoritmos.
Leitura Crítica
Enfim, toda e qualquer leitura deve ser crítica. Entretanto, as pessoas rejeitam a autocrítica que as pessoas leem de um romance ou perfil do Tik Tok. A maioria das pessoas pensa que a liberdade é seguir quem lhes inspira como os perfis das plataformas digitais. Por outro lado, a verdadeira liberdade reside na capacidade de pensar por si mesmo. Por isso, questionar o senso comum e buscar a realidade, mesmo que ela se esconda por trás da máscara da ficção, é difícil.
Alguns pontos, com toda a certeza, reforçam a necessidade de sabermos ler, antes de escrever, quais sejam:
- A leitura crítica e profunda é essencial para o desenvolvimento do senso crítico e da capacidade de discernimento de ideias.
- A literatura clássica oferece uma rica fonte de conhecimento e sabedoria que contribui para o crescimento individual e coletivo.
- A educação estimula o senso crítico nas novas gerações e incentiva a busca por informação.
- Informação e conhecimento são a base para qualquer debate, evitando-se informações falsas, crenças e dogmas.
Em suma, o monólogo interior dos escritores da atualidade nas redes sociais reproduz o fluxo de consciência de cada um. O que, anteriormente, era um romance, hoje são parágrafos de um péssimo romance de péssimos escritores. Virginia Woolf estava correta em detestar romances e detestaria ler ou ouvir stories.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Atualmente, as pessoas escrevem stories ou pequenos trechos que poderiam ser um romance. São nomes novos de coisas antigas.
(1) “Entre sem bater – G K Chesterton – Mundo Moderno“
(2) “Entre sem bater – Tito Lívio – Mentes Doentes“
Imagem: Entre sem Bater – Virginia Woolf – Ler um Romance
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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