Convivência
As relações pessoais, nos ambientes profissionais, sempre foram, via de regra, conflituosas, contraditórias ou dissimuladas. A partir do momento em que uma pessoa divide espaço com outra, mesmo dentro de casa, a convivência e flexibilidade devem estar na pauta dos objetivos. Desse modo, cria-se um ambiente de trabalho que deve ser o melhor possível para todos e não somente para grupos ou indivíduos.
Ambientes tipo Zen são raros quando se tem mais de uma pessoa. Em tempos atuais, algumas empresas moderninhas colocam “mimos” para seus funcionários ( agora chamados de colaboradores, de uma certa forma para atender aos politicamente corretos ) como forma de atenuar questões salariais e de benefícios.
O mundo maravilhoso das redes sociais existe em algumas empresas, #SQN, e em tempos de pandemia, home office etc. alguns conceitos precisam mudar.
Profissional x Pessoal
Particularmente, sempre tive dificuldades em algumas relações pessoais nas empresas. Adotei uma postura desde cedo ( comecei a trabalhar com 15 anos de idade ) de que separar o profissional do pessoal era a melhor forma de crescer.
Entendia, e ainda conduzo minhas atividades assim, que fazer amigos no ambiente profissional é decorrência do respeito profissional. Defendo que sorrisos democráticos nos ambientes profissionais escondem e prejudicam as corporações, sejam elas privadas, públicas, familiares e até do Terceiro Setor.
Compreendo que algumas atividades exigem, de maneira hipócrita, que o sorriso seja largo, não se pode perder o cliente, mesmo que esteja furando o olho dele. Por isso, nunca me vi atrás de um balcão de varejo. Eu iria colocar tudo a perder, sou péssimo vendedor e marqueteiro no caso de produtos e serviços ruins. Como diria o aluno da Escolinha do Professor Raimundo: “… Se sei digo que sei e se não sei digo que não sei …” um crime nos relacionamentos profissionais nos dias de hoje”.
Contramão
Trabalhar com o que se gosta e ter pessoas que não entendem isto no seu ambiente de trabalho, pode ser muito ruim. Às vezes gosto de trabalhar e pensar no meu trabalho fora do horário de serviço normal, sou, portanto, defensor do horário flexível e trabalho por tarefas, atividades e projetos. Por outro lado, isso vai na contramão da maioria dos profissionais que desligam, literalmente, da empresa e de suas tarefas profissionais quando ultrapassam a portaria.
Os profissionais que entram no mercado de trabalho estão levando hábitos pouco saudáveis do ponto de vista organizacional. Como se não bastasse, moldam-se facilmente aos péssimos hábitos dos profissionais antigos e completamente inseridos em zonas de conforto individuais de empresas de qualquer porte.
Era da Competição
Um dos graves problemas da nossa sociedade, do ponto de vista comportamental e das relações sociais, consiste na disputa das pessoas e o que a sociedade oferece a elas. Vivemos a “Era da Competição”, sem cooperativismo ou colaboração, do hedonismo oco extremo. Desse modo, como descrevi em ” A Geração do Hedonismo Oco “, temos a versão de pessoas adeptas a Epicuro individualistas.
Assim sendo, vivenciamos uma ou duas gerações de profissionais que ficam dentro das empresas, com seus headphones em músicas com volume alto, totalmente absortos do ambiente profissional. Cada vez mais, gestores inaptos difundem a ideia do ” faça sua parte ” e o todo se arranja. Não funcionou, não funciona e vai dar errado, em qualquer perspectiva, ainda mais quando as relações ficam modificadas drasticamente como na pandemia.
Cada parte, cada pessoa e cada relacionamento vis-à-vis é um quebra-cabeças bastante complexo. As interfaces entre atividades devem ser ajustadas nos ambientes profissionais e os colaboradores devem fazer de tudo para promover estes ajustes. Em outras palavras, a despeito das relações pessoais que possuem com outros colaboradores, fornecedores, clientes, tudo deve ser feito em nome da convivência, evitando-se hipocrisias.
Guerra individual
Das guerras individuais que cada profissional tem, imaginam que para crescer é necessário derrubar alguém ( e algumas corporações incentivam esta competição ). Chegamos à situação do perde-perde, ao contrário do ganha-ganha almejado, perdem as pessoas e o coletivo.
Tem sido difícil obter uma convivência minimamente harmoniosa em ambientes profissionais contaminados e onde o conflito de gerações ( às vezes quatro gerações diferentes ) não é explícito e se esconde atrás de relações pessoais superficiais.
Deixar um profissional levar seu bichinho de estimação para o trabalho é sensacional, do ponto de vista de quem tem bichinho de estimação. Entretanto, alguns profissionais nas empresas podem ter dificuldades com eles no mesmo ambiente. A existência de uma área de lazer onde as pessoas possam jogar Ping-Pong ( Tênis de Mesa é outra coisa ) ou simplesmente jogar conversa fora, é sonho de consumo de muito profissional, mas algumas organizações podem não ter disponibilidade deste benefício para todos, o que gera desequilíbrio importante nas relações e convivência. Quanto mais vejo algumas coisas acontecerem no ambiente profissional, mais vejo privilégios individuais, restrições coletivas e deterioração na convivência.
Convivência e Teletrabalho
Infelizmente, não vislumbro uma melhoria em ambientes profissionais, por mais que corporações ofereçam espaços de recreação, ambientes agradáveis e nos quais cada pessoa tem a sua individualidade mais e mais ampliada. Ambientes corporativos, nem sempre, adaptam-se a situações de conforto ideal para individualidades.
As melhorias coletivas, certamente, devem se sobrepor às melhorias e benefícios individualizados. A situação de benefícios personalizados a profissionais diferentes, falsamente disseminada como meritocracia, não tem sido aplicada, via de regra, de maneira apropriada.
Mudanças recentes na legislação trabalhista no Brasil podem dar a impressão de modernidade e avanço, mas colocará garantias e direitos sob risco. Nossa sociedade não é de Primeiro Mundo e não está preparada para algumas situações que não dominamos. Os profissionais que deveriam pensar nestas relações e condições profissionais estão, na maioria, omissos ou em dúvida, portanto, não vai funcionar.
Home Office
A convivência após a pandemia ganhou novos contornos com a admissibilidade do teletrabalho ou home office ( Teletrabalho ou Home Office, tanto faz… ). No texto que publiquei anteriormente, a lógica do tanto faz estava fundamentada em algumas premissas da reforma trabalhista, entretanto, a pandemia mudou este quadro.
A motivação da atualização deste texto originou-se de uma enquete sobre as preferências das pessoas em trabalharem “home office” ou “escritório”. A questão foi colocada de uma forma simples, mas que suscita pensamentos e debates elaborados, dependendo do interesse de avanços e/ou retrocessos.

Enquete – Reprodução Linkedin
Ao mesmo tempo que parece ser uma enquete simples e fácil de responder, as conclusões podem ficar complexas pelas variáveis com as quais atuaram cada participante. Embora a questão da convivência esteja implícita, deveria ser considerada em primeiro lugar. O perfil profissional de alguém extremamente individualista, colocará esta perspectiva em último lugar.
Por outro lado, algumas especificidades, com toda a certeza, norteiam outros indivíduos que respondem ao questionário. Por exemplo, um casal sem filhos, que trabalha home office em empresas distintas, pode preferir “2 dias no escritório” e “2 dias em casa” não coincidentes. Da mesma forma, se este casal tem um filho, todo o ambiente de convivência deveria ser ajustado e adaptado.
Futuro
Enfim, o futuro do trabalho no pós-pandemia é uma verdadeira incógnita, em todos os ramos de atividade e não somente no caso de “escritório em casa”. A opção cartesiana e individualista de “eu prefiro assim ou assado” deve ser bem pensada por todos, sob o grave risco de termos graves problemas de convivência, mesmo virtual.
Está sendo bastante comum vermos reclamações quanto a eficiência de reuniões online. De acordo com textos e “lives” que tenho participado, observo que até a competência de gestores, gerentes e capatazes está sendo exposta de maneira pérfida. O novo mundo do trabalho, seja home office ou “no escritório” nunca mais será o mesmo.
(*) Revisado e atualizado em março de 2021
Imagem: Blog Márcia Ballaminut
Nota do Autor
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