Entre sem bater – Hipócrates – O Julgamento

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Hipócrates cunhou frases a partir de seus conhecimentos do corpo humano, e é provável que o “Julgamento” seja apenas um diagnóstico.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Hipócrates de Kos

Em primeiro lugar, o reconhecimento de Hipócrates como “Pai da Medicina” tem fundamentação na mudança radical dos estudos desta ciência. É provável que a ideia de que certos profissionais da medicina se vejam como deuses a partir de algumas premissas que negavam os deuses. Hipócrates deve  ter sido o primeiro estudioso pensador que alinhava-se com a ciência ao contrário dos que defendiam deuses, superstições e mitos.

Hipócrates de Kos ( 460 a.C.  – 370 a.C. ), também conhecido como Hipócrates II, foi um médico grego do período clássico. É considerado uma das figuras mais marcantes da história da medicina. Ele é tradicionalmente referido como o “Pai da Medicina” em reconhecimento às suas contribuições duradouras para o campo. O uso de prognóstico e observação clínica, por exemplo, e a categorização sistemática de doenças ou a formulação da teoria humoral. A escola de medicina de Hipócrates revolucionou a medicina grega antiga. Desde seus estudos e práticas, a medicina estabeleceu-se como uma disciplina distinta de outros campos com os quais ela tinha associação ( teurgia e filosofia ). Desse modo, a medicina passou a condição de uma profissão. Sabe-se muito pouco sobre o que Hipócrates realmente pensou, escreveu e fez. Estudos sobre seu trabalho encontram-se em registro duzentos anos após sua morte. O Juramento de Hipócrates, é dos mais antigos de uma profissão e atravessa séculos entre os profissionais da medicina.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Julgamento

Eventualmente, alguns leitores questionam o uso de algumas frases desta trilha (Entre sem bater) numa transposição para os dias atuais. Como se não bastasse, vez por outra, preocupam-se com a forma e não em fazer uma reflexão sobre o conteúdo do pensamento. Desse modo, a frase de Hipócrates, em latim, sugere que ele falava em relação ao corpo humano. Entretanto, apropriei-me da mesma por entender que a ideia aplica-se, com relativa perfeição, nas estultas e fugazes redes sociais.

Frase

A frase em latim pode ter traduções diferentes, de acordo com o “humor”, inclusive da plataforma que utilizarmos. Assim sendo, a versão em latim e uma possível tradução do pensamento. A partir do grego, vai ao latim, inglês e português, e vira, surpreendentemente, um aforismo.

“Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile. Nec vero solum seipsum praestare oportet oportuna facientem: sed et assidentes, et exteriora.”

“A arte é longa, a vida é curta, a oportunidade é rápida, a experiência é perigosa, o julgamento é difícil. Nem, de fato, ele deve realizar o ato oportuno de si mesmo: mas também aqueles que estão presentes e aqueles que são externos.”

Fonte: Wikiquote

Enfim, tudo isso para transportamos para nosso mundinho, em que até aqueles que fizeram um juramento, costumam julgar e condenar.

Redes Sociais

Sobretudo após a explosão de utilização das redes sociais, o que ficou mais fácil foi fazer o julgamento de qualquer coisa ou pessoa. Certamente, as redes sociais, especialmente aquelas que estão faturando bilhões de dólares, querem audiência e cliques. Nossa sociedade não evoluiu de forma a pensar, e o aparentar vale mais do que o ser.

A arte continua longa e permanente, embora muita coisa que vemos na Internet e redes sociais não pode ter a qualificação de arte.

A vida, com toda a certeza é curta, e não depende de qual referencial de tempo que estejamos utilizando, todo mundo “não tem tempo”.

A oportunidade é apenas um breve momento, e se não aproveitamos, não teremos uma segunda chance.

As experiências são perigosas e excitantes, mas são as molas propulsoras da ciência, sem ela estaríamos na Idade da Pedra.

O julgamento ficou muito fácil, basta apontar um dedinho, clicar e esperar por muitos likes.

Fake News

Desde que as redes sociais mais perversas ganharam os smartphones do mundo, vivemos um mundo onde o julgamento vil é a lei. Aquilo que chamamos de fake news, é conhecimento há séculos como mentira e boatos. Anteriormente, um boato podia nem chegar ao ouvido de um pessoa na mesma aldeia. Atualmente, qualquer mentira viaja o planeta em segundos e os mentirosos podem ter mais credibilidade do que gente séria.

E, como se não bastasse, enganam-se aqueles que pensam que é fácil desmentir uma mentira. A partir da ideia de Hipócrates, ficou perigoso viver, a arte pode não ser arte, a oportunidade dura um clique. As experiências ficaram mais cruéis, e cada cabeça aplica um julgamento e uma sentença.

Enfim, a facilidade com que se julga, e nem sempre á alvo de julgamento igual, cria-se serpentes que matam, ao invés de curar. Devia haver um juramento para aqueles que entram nas redes sociais, mas isso é utopia. A serpente da Bíblia gerou pecados que a ciência da medicina não pode deixar se dominar.

Em suma, desafiar deuses, superstições e mitos é mais do que necessário nestes tempos sombrios de julgamentos e condenações. Somos, sobretudo, náufragos da utopia, ou um idealista⁽²⁾ rebelde e sem causa.

 

P. S.

O posicionamento de muitos médicos no Brasil, por ação ou omissão, passa bem perto de atos criminosos. O posicionamento de vários destes profissionais da medicina em relação a polêmicas recentes desrespeita seu juramento profissional. As questões das vacinas, tratamentos alternativos precoces e a oposição ao “Mais Médicos”, é abominável.

 

⁽¹⁾ “Pecados – As origens e o mundo digital”

⁽²⁾ “Entre sem bater – Millôr Fernandes – O Idealista”

 

Imagem: Entre sem bater – Hipócrates II – O Julgamento

Nota do Autor