Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É provável que Milan Kundera tivesse qualificação máxima para falar sobre um possível “Futuro Melhor“.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Milan Kundera
A história de um escritor em exílio, seja de qualquer nação, deveria ter melhor sorte e leitura por parte de seus concidadãos. Adicionalmente, os não-conterrâneos destas vítimas de exílio, como Kundera, deveriam, analogamente, pensar com equidistância nas ideias. Desse modo, teríamos a constatação de que este papo de futuro melhor é uma espécie de distopia démodée.
Milan Kundera ( Brno, 1 de abril de 1929 – Paris, 11 de julho de 2023) foi um escritor checo, exilado na França. Mundialmente, conhecido por seu livro A Insustentável Leveza do Ser (1983). Naturalizado francês desde 1981, era apátrida desde que sua cidadania checa fora revogada em 1979. Por outro lado, recuperou a cidadania em 2019. Porém, Kundera considerava-se um escritor francês e desejava que a sua literatura fosse estudada como literatura francesa e como tal classificada nas livrarias. Sua obra mais conhecida e aclamada é A Insustentável Leveza do Ser, publicada antes da Revolução de Veludo de 1989, quando o regime comunista da Checoslováquia baniu seus livros.
Fonte: Wikipedia (Português)
Um Futuro Melhor
Desde criança, ou ainda como adolescente, vivendo num regime golpista, uma frase povoava meu imaginário: O Brasil é o país do futuro. Desde que alfabetizei-me, no auge do regime militar, frases como “Ame-o ou Deixei-o“, “País do Futuro” e outras eram um tipo de propaganda. Década depois, com toda a certeza, descobri, sem inteligência artificial (IA)(1). que era propaganda de guerra(2), uma propaganda ideológica.
Assim sendo, a passagem de “O livro do riso e do esquecimento” (1979) é aplicável, em tempos de estultices com a velocidade da luz.
“As pessoas estão sempre gritando que querem criar um futuro melhor. Não é verdade. O futuro é um vazio apático que não interessa a ninguém. O passado está cheio de vida, ansioso para nos irritar, provocar e insultar, nos tentar a destruí-lo ou repintá-lo. A única razão pela qual as pessoas querem ser donas do futuro é mudar o passado. Eles lutam pelo acesso aos laboratórios onde fotografias são retocadas e biografias e histórias reescritas.”
Parte I: Cartas Perdidas (pág. 22)
IA e Tempos Modernos
A citação de Milan Kundera sobre o futuro e o passado deveria trazer à tona uma reflexão profunda sobre o anseio por um futuro melhor. Kundera afirmava que o futuro é um vazio apático que não interessa a ninguém, certamente, com muita experiência pessoal.
Desse modo, seria correto argumentar que a influência da IA e a explosão das redes sociais têm o potencial de moldar um futuro promissor?
Nesse ínterim, a IA tem avançado rapidamente em diversas áreas, como a medicina, a indústria, a educação e até mesmo nas interações humanas. É provável que, com a contínua evolução da IA, muitos vislumbrem um futuro em que as tecnologias tragam benefícios tangíveis para a sociedade. Contudo, a imaginação das pessoas por um futuro melhor tem uma grave dissociação dos reais beneficiários dos melhores resultados.
Nada mais emblemático do que frases feitas sobre um futuro melhor, para esconder a hipocrisia de uma sociedade moribunda.
Conexões
Além disso, a explosão das redes sociais trouxe consigo um aumento significativo na conectividade e no compartilhamento de informações. As pessoas estão mais conectadas do que nunca, o que garante apenas uma disseminação rápida de ideias e opiniões. Desse modo, a troca de conhecimentos em escala global e laica pode não ser uma verdade. Como se não bastasse, as redes sociais são um poderoso instrumento para manipulação e mobilização social. Sem dúvida, isso permite que pessoas se unam em torno de causas e mudanças que podem não ser de um futuro melhor.
No contexto dessa perspectiva, não é possível enxergar um futuro melhor em que a IA e as redes sociais sejam ferramentas para mudanças sociais positivas. Por exemplo, as fake news agora podem, com auxílio da IA, simular vozes, imagens, textos e muito mais. Por outro lado, a utilização destas tecnologias, inexistentes quando Kundera escreveu sobre um futuro melhor, deveriam ter outros usos. Poderiam, outrossim, auxiliar na resolução de problemas globais, como a mudança climática, a pobreza e a desigualdade. Com algoritmos avançados e o processamento de grandes quantidades de dados, ainda é possível desenvolver soluções inovadoras e estratégias eficientes.
Em suma, para enfrentar esses desafios da humanidade, bastaria querer utilizar as tecnologias para um mundo melhor, mas os donos não querem. Desejam, com toda a certeza, retocar fotografias, biografias e reescrever a história de cada um, ou seja, a hipocrisia pura.
Hipocrisia Pura
Desta forma, as redes sociais deveriam desempenhar um papel fundamental na conscientização e mobilização da sociedade para questões urgentes. Entretanto, movimentos sociais avançam pela capacidade de compartilhar informações (falsas e verdadeiras), abandonando suas finalidades. Uma vez que organizar protestos e pressionar por mudanças nas ruas virou “águas passadas”, nossos redemoinhos claudicam. Os indivíduos, de diferentes partes do mundo, não se unem nem pelas suas causas comuns e locais. Entretanto, “exigem” ações de governos e instituições, através de representantes políticos(3) ou ações nas mídias digitais.
No entanto, com toda a certeza, devemos ter em mente que o futuro não é determinístico através IA e pelas redes sociais. Os seres humanos deveriam ser os agentes de mudança protagonistas e longe dos teclados. Portanto, é essencial que eliminemos a hipocrisia das redes sociais e tenhamos uma conscientização coletiva. A tecnologia, por si só, não pode resolver todos os problemas do mundo e tampouco buscar um futuro melhor. Qualquer tecnologia é apenas uma ferramenta que usamos para impulsionar a mudança, e são as pessoas que têm o poder da transformação.
Passado e futuro
Em suma, não podemos reescrever o ontem, como muitos fazem, hipocritamente, nas redes sociais. Entretanto, as experiências individuais e coletivas devem servir para reflexão para pensarmos o futuro. Desse modo, à medida que a IA continua a evoluir e as redes sociais continuam a conectar pessoas, um futuro melhor fica distante. Além disso, os problemas do passado não resolvidos, a hipocrisia e falsidade crescentes, empurra a sociedade numa direção perigosa.
Enfim, para que a sociedade, principalmente no Brasil, avance em direção a uma maior igualdade, sustentabilidade e bem-estar, o futuro não está aqui. A chave para alcançar esse futuro pode estar em usar essas ferramentas de forma responsável, ética e com uma visão coletiva de progresso.
Um futuro melhor é pura hipocrisia de uma sociedade em putrefação com seres igualmente em perdição. Proibir escritores, condenar professores, acusar educadores não é coisa de gente com mente sadia.
R. I. P. Kundera !
(1) “Entre sem bater – Stephen Hawking – Inteligência Artificial”
(2) “Entre sem bater – George Orwell – Propaganda de Guerra”
(3) “Entre sem bater – Carlos Drummond de Andrade – Representantes Políticos”
Imagem: Entre sem bater – Milan Kundera – Um Futuro Melhor
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.