Entre sem bater - Emiliano Zapata - Rebanho de Escravos

Entre sem bater – Emiliano Zapata – Rebanhos de Escravos

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Passados 100 anos da Revolução Mexicana, ao menos, a ideia de Emiliano Zapata, sobre “Rebanhos de Escravos“, é atualizadíssima.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Emiliano Zapata

A maioria das nações tem seus heróis que lutaram pelo seu povo contra os colonizadores. Se bem que no Brasil, quem lutou pelo povo, não tem reconhecimento ou sofrem diminuição histórica. A questão agrária, foi a bandeira que Zapata levantou e que deu aos mexicanos alguma perspectiva. Entretanto, como nenhuma luta popular consegue vitória constante, os Zapatistas têm a pecha de bandidos.

Emiliano Zapata Salazar ( 8 de agosto de 1879 – 10 de abril de 1919 ) foi um revolucionário mexicano. Ele foi uma figura importante na Revolução Mexicana de 1910-1920, o principal líder da revolução popular no estado mexicano de Morelos e a inspiração do movimento agrário chamado Zapatismo. Zapata nasceu em uma época em que as comunidades camponesas sofriam crescente repressão dos que monopolizavam a terra e os recursos hídricos para a produção de cana-de-açúcar com o apoio do ditador Porfirio Díaz (presidente de 1877 a 1880 e 1884 a 1911). Zapata desde cedo participou de movimentos políticos contra Díaz e os fazendeiros latifundiários e, quando estourou a Revolução em 1910, tornou-se líder da revolta camponesa em Morelos. Cooperando com vários outros líderes camponeses, ele formou o Exército de Libertação do Sul, do qual ele logo se tornou o líder. As forças de Zapata contribuíram para a queda de Díaz, mas quando o líder revolucionário Francisco Madero se tornou presidente, denunciou os líderes e o movimento agrário como ilegais. Zapata é uma figura icônica no México, tanto como símbolo nacionalista quanto como símbolo do movimento neozapatista. A Constituição mexicana de 1917 tem previsão que atende às demandas agrárias de Zapata.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Rebanhos de Escravos

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que algumas questões de outras nações devem ser objeto de estudos com maior detalhamento. É impossível, com toda a certeza, analisar situações históricas e seus personagens sem uma visão próxima de cada povo ou nação. Desse modo, alguns textos desta trilha (Entre sem Bater) são uma visão sobre relatos históricos e versões disponíveis na Internet. Contudo, no caso de partes da história mexicana, consegui algum conhecimento na visita que fiz àquele país.

Assim sendo, é possível fazer analogias com, por exemplo, a história das revoluções que aconteceram no Brasil e seus efeitos. Por outro lado, é inevitável algumas analogias e constatações que no caso das demandas agrárias campesinas, o Brasil empacou na história.

No caso do México, a ideia de Ricardo Flores Magón, contemporâneo de Zapata, sobre a submissão(1), é pertinente. Adicionalmente, a análise de Frida Kahlo, quando separa as pessoas estúpidas(2), restringindo trabalhadores e elites, é correta.

Questão Agrária

A questão agrária sempre foi um elemento-chave na história do planeta, e da América Latina, moldando a trajetória política e social de muitos países. A Revolução Mexicana, por exemplo, que eclodiu na segunda década do século XX, é uma influência continental. Por outro lado, a questão agrária no Brasil permanece sem resolução significativa mesmo após um século em comparação ao México. Assim sendo, para entender as complexidades desses dois cenários, é crucial analisar a influência da colonização portuguesa no Brasil. Outrossim, a colonização espanhola no México pode indicar hipóteses do atraso na resolução da questão agrária no Brasil.

Revolução Mexicana

A Revolução Mexicana de 1910 teve importância histórica no México, desencadeando uma série de transformações políticas e sociais. Uma das principais motivações da revolução foi a questão agrária. Com efeito, as profundas desigualdades na posse de terras e a exploração dos camponeses por grandes proprietários foi determinante. O sistema de latifúndios e a concentração de terras nas mãos de poucos agravavam as condições de vida da maioria da população rural. Enquanto isso, como em muitos outros países, uma elite dominante usufruía de benefícios injustificáveis.

Assim sendo, líderes como Emiliano Zapata se destacaram ao reivindicar “Terra e Liberdade” para os camponeses. A redistribuição de terras e a busca por justiça social eram objetivos centrais do movimento revolucionário. Com toda a certeza, a busca por um ambiente mais equitativo para a população rural agregou muito à revolução. O movimento mexicano resultou em reformas significativas, como a Constituição de 1917, que estabeleceu as bases para a reforma agrária. Como se não bastasse, naquele início de século, a nacionalização de recursos naturais foi determinante para uma conscientização da nação mexicana.

Brasil Imperial

No Brasil, por outro lado, a questão agrária também tem raízes profundas. Entretanto, a falta de uma revolução social semelhante à mexicana procrastina a questão ao longo dos anos e de governos. A colonização portuguesa deixou um legado de latifúndios e uma estrutura de propriedade de terras altamente concentradas. Desta forma, uma minoria ainda detém a maior parte das terras férteis, enquanto a maioria da população tem acesso limitado à terra.

Ao longo da história brasileira, houveram tentativas de reforma agrária, como a Lei de Terras de 1850, após a ilusão de um Reino Unido(2). A Lei, teoricamente, pretendia regularizar a posse de terras, mas provocou uma maior concentração de terras nas mãos de grandes fazendeiros. Surpreendentemente, a abolição da escravidão em 1888 também influenciou a distribuição desigual de terras e fortalecimento dos latifúndios. Como se não bastasse, uma vez que a maioria dos escravos não tiveram acesso à terra receberam uma condenação à servidão.

Em suma, no Brasil, mesmo com a abolição a partir da segunda metade do Século XIX, os rebanhos de escravos cresceram. E, ainda hoje, terras indígenas e espaços dos quilombolas sofrem com a espoliação dos grandes proprietários. Certamente, o Estado brasileiro, nem com a Constituição de 1988 deu um rumo na questão, ao contrário dos mexicanos.

Colônias

Desse modo, a influência da colonização portuguesa no Brasil e espanhola no México tiveram efeitos duradouros nas estruturas sociais destas nações. No caso do Brasil, a herança colonial contribuiu para a concentração de terras, perpetuando as desigualdades rurais até  hoje. No México, embora também tenha passado por uma concentração inicial de terras, a Revolução Mexicana desempenhou um papel diferente. Uma revolução campesina foi decisiva  para mudanças ao estabelecer políticas de redistribuição de terras.

É provável que o atraso na resolução da questão agrária no Brasil deva-se à ausência de um movimento revolucionário, como no México. A falta de pressão política e social para uma reforma agrária mais profunda no Brasil perpetua as desigualdades(4) sociais e culturais.

Em contraste, a Revolução Mexicana evoluiu como um movimento popular e avançou nas políticas sociais, incluindo a reforma agrária. A mobilização em torno das questões agrárias foram fundamentais para a conquista de direitos e terras para os camponeses mexicanos. Embora as colonizações tenham suas semelhanças, mesmo que por colonizadores diferentes, a reação de cada povo é muito diferente.

CPI e Diversionismo

A comparação entre a Revolução Mexicana e a questão agrária no Brasil revela como a influência das colonizações moldou as trajetórias desses países. Enquanto o México experimentou uma revolução que levou a reformas na distribuição de terras, o Brasil não conseguiu avançar na questão agrária. A ausência de um movimento verdadeiramente revolucionário no Brasil, e as complexidades históricas e políticas são determinantes.

O atraso na resolução dessa questão fundamental para o desenvolvimento equitativo do Brasil resiste a todas as manifestações. A recente abertura de uma CPI do Movimento dos Sem-Terra (MST) é o retrato do poder das elites. Desta forma, o absurdo aumento dos rebanhos de escravos nas redes sociais está com sua representação nos Legislativos das três esferas.

Quando um ministro diz que questões polêmicas de diversionismo devem proporcionar “…passar a boiada…“, é porque vamos de mal a pior. A expressão popular que teve lugar numa reunião ministerial deveria ser motivo de vergonha para a nação brasileira. Contudo, muitos brasileiros ainda votam e elegem estas figuras que gostam mesmo é de ampliarem seus rebanhos de escravos e seguidores.

As redes sociais só mudaram os canais de manipulação(5) e permitiram a ampliação destes rebanhos de escravos através de mentiras e enganação.

Em suma, após muitas revoluções em várias nações, com a questão agrária como eixo, o Brasil, mesmo sendo a maior nação agrícola, patina.

Quem pensa que “o agro é pop” ainda não entendeu como funciona a agricultura para exportação e a agricultura para alimentação dos brasileiros. A distância, sem uma reforma agrária, fica cada dia mais longe, e não tem CPI que resolva a situação dos camponeses e trabalhadores rurais.

O brasileiro, que concentra-se nas cidades, podia, mas não quer, deixar de ser mais um nestes rebanhos de escravos, de ignorância e submissão.

P. S.

O governo do mandato que se encerrou recentemente conseguiu uma horda de escravos e seguidores que é assustador. Como se não bastassem as mentiras das redes sociais, os déspotas querem voltar ao poder, mesmo contra processos criminais. Este texto é uma homenagem ao movimento “Marcha das Margaridas”, de valorosas mulheres que nunca se curvarão como escravas ou submissas.

 

(1) “Entre sem bater – Ricardo Flores Magón – Submissão

(2) “Entre Sem bater – Frida Kahlo – Pessoas Estúpidas

(3) “200 anos sem Dom João VI

(4) “Entre sem bater – Tony Judt – A Desigualdade

(5) “Manipulação individual de massas

 

Imagem: Entre sem bater – Emiliano Zapata – Rebanhos de Escravos

Nota do Autor

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