Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. É provável que os habitantes de Užupis nunca terão a compreensão de “Todo Mundo” que desconhece a sua história.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Užupis
Certamente, as redes sociais e a inclusão digital não são tão malditas como frequentemente apresentamos na trilha “Entre sem bater”. Entretanto, mesmo nas frases-chave com algum toque de humor ou de conhecimento geral, alguns se rebelam. No caso deste texto, a frase é uma lei da constituição da República de Užupis, que 99,99% dos leitores nunca ouviu falar.
Užupis é um bairro de Vilnius, capital da Lituânia, localizado em grande parte no centro histórico de Vilnius, um Patrimônio Mundial da UNESCO. Užupis significa “além do rio” ou “do outro lado do rio” na língua lituana e refere-se ao rio Vilnia. O distrito é popular entre os artistas há algum tempo, e foi comparado a Montmartre em Paris e a Freetown Christiania em Copenhague, devido à sua atmosfera boêmia e laissez-faire. Em 1º de abril de 1997, o distrito declarou-se uma república independente (República de Užupis), com constituição própria. Užupis é bastante pequeno e isolado, tendo apenas cerca de 60 hectares (148 acres) tem cerca de 7.000 habitantes, dos quais quase 1.000 são artistas.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Todo Mundo
Em primeiro lugar, alguns assuntos exigem um grande desprendimento dos leitores, assim como quando escrevemos o texto. Desse modo, não gosto de expressões que podem facilmente receber ideias contrárias. Por exemplo, a expressão “todo mundo”, como os termos “nunca”, “sempre” e outros possuem exceções que derrubam tudo.
Contudo, quando vemos numa constituição de uma República a expressão todo mundo, como lei, temos que nos render e respeitar. Assim sendo, fico imaginando se nestes tempos de pseudodemocracias e possibilidade de se criar repúblicas, a minha cidade tivesse várias.
Em um destes espaços nas redes sociais, participo de um grupo que trabalha para criar a República de Satoshi. Uma determinada “carta de intenções” dos praticantes da seita do Bitcoin (BTC para os íntimos) que ganhará mais exposição nos próximos dias. É claro que todo mundo no grupo dos seguidores de Satoshi entende da proposta, mas a república precisa de milhares de habitantes.
A República de Užupis talvez tenha seus avanços e consolidação por possuir poucos habitantes e aquilo que os une ser simples de entender. Aliás, a lei que motiva nosso texto é a antítese de entender tudo ou muitas coisas.
Desta forma, avanço com as ideias da República de Satoshi, mas pensei em uma República na minha cidade, Belo Horizonte, República da Lagoinha.
República da Lagoinha
Para quem não sabe, Lagoinha é um bairro ou região na cidade de Belo Horizonte, assim como Užupis, do outro lado do rio, o Arrudas. O bairro tem muita história de boêmia, como em Vilnius. Analogamente, poderíamos relacionar Lagoinha, Belo Horizonte, Minas Gerais com Užupis, Vilnius e Lituânia. É muito fácil para todo mundo entender e apoiar uma ideia como esta.
Anteriormente, publiquei textos sobre Belo Horizonte, na data de aniversário da cidade. Um destes textos foi sobre o Copo Lagoinha(1), que obteve uma grande atenção dos leitores, principalmente de fora de Minas Gerais. A história da república e da constituição na Lituânia é um forte motivo para que os tradicionalistas defendam a criação da República da Lagoinha.
Curral Del Rei
A nossa Beagá(2), com toda a certeza, efervescente, esconde-se atrás da Serra do Curral(*) e tem recantos que deveriam ser independentes. Um destes recantos, tão vilipendiado é a Lagoinha da boêmia e de muita história. Este bairro, outrora reduto de seresteiros, dançarinos e amantes da noite, agora é um terreno fértil para a criação de uma república independente. Desde que me inspirei em Užupis, defendo a fundação da República da Lagoinha, onde a cultura, a liberdade e a criatividade renascerão.
1. Constituição Cultural
A cultura é o coração pulsante de nossa república. Propomos que a Lagoinha celebre sua diversidade por meio de festivais, exposições de arte de rua e performances teatrais. Nossas ruas serão telas em branco para artistas locais e internacionais, e os muros ganharão vida com grafites vibrantes. A música ecoará pelas vielas, e os sabores da culinária mineira se misturarão com influências globais.
E, inquestionavelmente, resgataremos o Fluminense da Lagoinha, que terá seu estádio monumental, ali no campo do Pitangui, rumo a Tóquio. Como também daremos um jeito de reviver o restaurante Bandeirantes e outros marcos da região.
2. Idioma Próprio
A República da Lagoinha terá seu próprio idioma: o Lagoinhês. Uma mistura do mineirês-raiz, de gírias e palavras inventadas, o Lagoinhês será a língua franca de nossa comunidade. Quem sabe, talvez até criemos um dicionário colaborativo para preservar nossas peculiaridades linguísticas.
3. Hino e Bandeira
Nosso hino será uma melodia alegre, entoada por todo mundo nas praças e nos bares, inclusive no “Buraco Quente“, capital da Lagoinha. A bandeira terá cores vibrantes que representam a diversidade de nossos habitantes. Talvez inclua um copo russo e um Lagoinha como símbolo central, lembrando-nos de nossa história boêmia e resistência.
4. Cidadania Criativa
Qualquer pessoa que abrace a criatividade e a liberdade é bem-vinda em nossa república. Os cidadãos da Lagoinha serão os Lagoinhenses e terão o dever de contribuir para a cultura local. A cidadania se dará mediante a participação em eventos culturais ou a criação artística. E até as personas non gratas terão direito de se manifestar publicamente, basta aguentar o tranco das réplicas.
5. Autonomia e Autogestão
Nossa república será autônoma, com decisões tomadas em assembleias públicas realizadas no mercado municipal. Teremos um Conselho de Artistas, um Ministério da Criatividade e uma Guarda Cultural para manter a ordem nas ruas. A economia terá como modelo a nanoeconomia feudal(3) (escambo) de ideias e na valorização do talento local.
6. Relações Internacionais
Estabeleceremos laços com outras repúblicas criativas ao redor do mundo. Trocaremos artistas, músicos e poetas, promovendo intercâmbios culturais. Quem sabe, um dia, teremos um tratado de amizade com cidades-irmãs, como Užupis, Montmartre, com o Povo de Satoshi e outras.
Go ahead
Com toda a certeza, por aquilo que nos une, esta iniciativa seria de enorme sucesso e motivaria outras iniciativas semelhantes. A nossa república não teria espaço para brigar, por exemplo, os habitantes da república de Satoshi seriam conacionais. Contudo, poderíamos trocar conhecimentos e ter uma moeda única.
A República da Lagoinha será, sem dúvida, mais do que um refúgio para sonhadores, artistas e todo mundo que busca uma vida além das convenções. Que nossa bandeira tremule alto, e que a criatividade e sabedoria seja nossa moeda de troca.
Assim sendo, como a micronação de Užupis teremos leis onde “Todo mundo tem direito de morrer, mas não é uma obrigação”. E, adicionalmente, “Todo mundo tem o direito de não entender nada”, ou entender de tudo, mas ficar nas redes sociais.
Enfim, bem-vindos à Lagoinha, onde a liberdade é a única lei e a imaginação não tem limites!
Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) A cidade escondida possui outras regiões que mereciam ser repúblicas, como Santa Tereza e outras. Entretanto, cada um que crie a sua república, #taoquei?
Site Oficial da República de Užupis – https://www.uzupiorespublika.com/en/home/
(1) “Meu nome: Copo Lagoinha“
(2) “Entre sem bater – César Menotti e Fabiano – Nossa Beagá“
(3) “Nanoeconomia Feudal no Século XXI“
Imagem: Entre sem Bater – Constituição de Užupis – Todo Mundo
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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