Entre Sem Bater - Martin Luther King - Trabalho e Dignidade

Entre Sem Bater – Luther King – Trabalho e Dignidade

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Martin Luther King, foi autor, a princípio, de frases impactantes. E, como se não bastasse, portou-se com “Dignidade” ao fazer todos os seus pronunciamentos.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Martin Luther King

Em primeiro lugar, é muito importante separarmos aforismos desta frase, que é um resumo do que escreveu Luther King. Eventualmente, aforismos podem não ter, e na maioria dos casos, não têm, aplicação direta numa situação específica. Entretanto, no caso da frase sobre o trabalho e a dignidade, cabe o reconhecimento ao líder negro estadunidense, pela sua luta. Se no aforismo sobre “o silêncio dos bons(1) é surpreendentemente aterrorizante a pouca indignação(*), no dia do trabalhador fica pior.

Martin Luther King Jr. (nascido Michael King Jr.; 15 de janeiro de 1929 – 4 de abril de 1968) foi um pastor e ativista batista americano que foi um dos líderes mais proeminentes do movimento pelos direitos civis de 1955 até seu assassinato em 1968. Um líder da igreja negra e filho do ativista dos direitos civis e ministro Martin Luther King Sr. King Jr promoveu os direitos civis para pessoas de cor nos Estados Unidos por meio da não-violência e da desobediência civil. Inspirado por suas crenças cristãs e o ativismo não violento de Mahatma Gandhi, ele liderou uma resistência não violenta contra as leis de Jim Crow e outras formas de discriminação nos Estados Unidos.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Dignidade

Quando vemos, pela mídia, verdadeiros assassinatos de negros por policiais se repetirem, podemos imaginar que as palavras de Luther King foram nulas. Entretanto, devemos considerar o momento e as dificuldades do ativista e fazer uma reflexão sobre como a humanidade involuiu.

Certamente, os defensores das modernidades, especialmente tecnológicas, dirão que a humanidade tem que avançar. Nesta data, “comemora-se” mais um daqueles dias que enganam muita gente. Em primeiro lugar, a data de a 1° de maio, comemoração em mais de 150 países, não vale para os EUA e Canadá.

Certamente, poucos trabalhadores do mundo não sabem que o Dia do Trabalho e o Dia do Trabalhador deveriam ser diferentes. EUA e Canadá optaram pela data em setembro, o resto do mundo em maio, por conta de uma greve geral nos EUA com muita luta. Desse modo, a dignidade e humanidade a que Luther King se refere não pode ser aquela que confunde trabalho com trabalhador.

É impressionante a quantidade de frases que louva o trabalho, até para garantir um lugarzinho no céu. Muitos pensadores, desde os filósofos gregos, defendiam que o trabalho enobrece o homem, principalmente se ele não for escravo.

Em tempos de desemprego, trabalho com precarização e desumanização, vemos hordas de trabalhadores virarem as costas para suas representações. A tal pejotização ou falácia do empreendedor(2) fizeram com que o verdadeiro trabalhador perdesse a dignidade, sem chance de recuperação.

Assim sendo, a luta por trabalho digno, com remuneração honesta, virou privilégio. E, como se não bastasse, as exigências e os jovens que buscam o primeiro emprego, aceitam, sem nenhuma indignação, qualquer coisa. Por isso, recrutadores e estudiosos já destacam a falta de sintonia entre patrões tradicionais e a Geração Z ou Millennials.

Nova Geração

Podemos afirmar, com toda a certeza, que as novas gerações não estão nem aí para as diferenças de trabalho, trabalhador, exploração e outras. São como paladinos da sagacidade e colocam regras até nos chefes e empregadores. Em certa medida, não há limites e muito menos responsabilidade e compromisso.

Decerto, as oportunidades de trabalho, inclusive em espaços com a classificação de ambientes estáveis, não são mais as mesmas. As artimanhas de recrutadores e plataformas digitais de contratação beiram ao surrealismo. Nada que a tecnologia não consiga resolver, é claro que diminui as possibilidade de conciliar muitas coisas.

Salve-se quem puder, seu trabalho está em vertigem, sem dignidade e sem humanidade.

Dia do Trabalhador

Enquanto o mundo celebra o Dia do Trabalhador, uma data de reivindicações por direitos laborais e justiça social, uma sombra paira sobre a comemoração. Atualmente, mais do que nunca, a relação entre o trabalhador, o trabalho e o capital, tornou-se uma babel de confusão e desespero.

O avanço tecnológico, embora aparente uma era de prosperidade e facilidade, a realidade do trabalho mostra outra face. As tecnologias contribuem para a erosão da dignidade e humanidade de uma grande massa de trabalhadores. Desse modo, os trabalhadores enfrentam um futuro incerto, desafiador, dramático e desolador.

Falsos Empreendedores

Um dos fenômenos mais marcantes é a transformação dos desempregados em “empreendedores” de aplicativos de entrega ou de transporte. À princípio, essa adaptação pode parecer uma demonstração de resiliência e iniciativa em face da adversidade. Contudo, sob uma análise com mais atenção, revela-se uma cruel realidade: a perda completa da dignidade enquanto trabalhador.

O trabalhador que uma vez teve direitos e proteções agora se vê preso em um ciclo de trabalho precário e exploração. As pretensas flexibilidades e facilidades são ilusões e a exploração é a norma geral. A promessa de autonomia e liberdade desaparece na realidade de longas horas de trabalho, baixos salários e nenhuma segurança social.

Por outro lado, até mesmo profissionais que deveriam atuar em prol da humanidade sucumbem à ganância e à falta de ética. É perturbador testemunhar casos de falsos médicos que realizam consultas cobrando valores exorbitantes. Certamente, ao se aproveitarem da vulnerabilidade, inocência e da confiança dos pacientes, não passam de criminosos. Da mesma forma, laboratórios de exames clínicos que falsificam resultados comprometem não apenas a integridade da profissão médica. Estes canalhas agridem a saúde e o bem-estar daqueles que confiam neles para diagnósticos precisos e posterior tratamento.

Tecnologias Desumanas

Neste cenário sombrio, as tecnologias desempenham um papel central na desumanização do trabalho. A automação e a inteligência artificial, enquanto prometem eficiência e produtividade, fazem a substituição de trabalhadores por máquinas. Aqueles que conseguem manter seus empregos enfrentam pressões cada vez maiores para atender às demandas de uma economia digital.

A linha entre o trabalho e a vida pessoal se torna cada vez mais tênue. Desta forma, os dispositivos digitais nos mantêm com conexão ao trabalho 24 horas por dia, 7 dias por semana. Exploração do trabalhador é pouco, e muitas pessoas ainda romantizam esta condição desumana e sem que inibe a dignidade.

Além disso, a proliferação das Big Techs, e a ascensão de plataformas digitais, cria uma força de trabalho sem proteção e dispersa. Os trabalhadores independentes sofrem cerceamento de direitos básicos, como salário mínimo, seguro saúde e licenças com remuneração. Eles recebem tratamento como peças descartáveis ou como no filme Tempos Modernos, de Chaplin.

A tecnologia também desempenha um papel na disseminação da desigualdade econômica e social. À medida que os gigantes da tecnologia acumulam riqueza e poder sem precedentes, uma grande parcela da população claudica. Em sua luta para sobreviver, em meio a empregos precários e salários injustos, tem que comemorar uma data.

A promessa de igualdade de oportunidades através da tecnologia vira lenda pela realidade de uma sociedade injusta e com polarizações.

Comemoração surreal sem dignidade

Diante desse panorama desolador, é compreensível que muitos trabalhadores não encontrem motivos para comemorar o Dia do Trabalhador. Para a maioria deles, com toda a certeza, esta data serve como um lembrete sombrio das promessas e esperanças que se perderam.

É provável que, mesmo no meio do obscurantismo e plena escuridão mental, exista algum espaço para a perseverança.

Assim sendo, é imperativo que reconheçamos os desafios que enfrentamos e nos unamos para enfrentá-los coletivamente. Precisamos repensar o futuro do trabalho e tantas outras “editorias”, em função do novo mundo digital. Em outras palavras, é necessário que a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores estejam no centro de nossas preocupações.

Por isso, a ousadia nas ações políticas e movimentos para proteger os direitos dos trabalhadores é crucial. Além disso, salários dignos e a promoção de um ambiente e condições de trabalho justas e seguras.

Desafios do Século XXI

Nesse ínterim, de constantes lutas, devemos abraçar uma visão mais ampla de progresso como a economia solidária. Devemos entender e valorizar não apenas o crescimento econômico, mas também o bem-estar humano e a sustentabilidade ambiental. Isso significa questionar as narrativas dominantes e buscar alternativas para avançar na igualdade, na solidariedade e na justiça social.

Enquanto enfrentamos os desafios do século XXI, devemos lembrar que somos mais fortes juntos. No espírito de solidariedade e resistência que, anteriormente, marcaram os movimentos trabalhistas devem ser o ponto de convergência. No futuro, o trabalho deve ser uma fonte de dignidade, realização e justiça para todos.

Só então poderemos verdadeiramente celebrar o Dia do Trabalhador, não como uma lembrança do que perdemos, mas como uma visão de novas possibilidades.

Em suma, é tudo um jogo onde as empresas lucram enquanto os trabalhadores pagam o preço, até uma revolução nas mentes e corações. E os golpes nos trabalhadores(3) se sucedem, surpreendentemente, com uma passividade nunca vista antes neste país.

Enquanto houver um trabalhador com condições análogas a regimes de escravidão, nenhuma dignidade e humanidade existe.

 

Amanhã tem mais …

P. S.

(*) A indignação, como escreveu o cancioneiro popular, “… é uma mosca sem asas, que não ultrapassa as janelas de nossas casas …”.

(1) “Entre Sem Bater – Martin Luther King – O Silêncio dos Bons

(2) “Microempreendedor – A Falácia Final

(3) “Golpe nos Trabalhadores – Precarização, Terceirização e Lucros

 

Imagem: Entre sem bater – Martin Luther King – Trabalho e Dignidade

Nota do Autor

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