Entre Sem Bater - Indira Gandhi - Menos Competição

Entre Sem Bater – Indira Gandhi – Menos Competição

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Quando falou sobre “Competição“, certamente Indira Gandhi foi altamente irônica e queria atingir algum objetivo não explícito.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Indira Ghandi

A história de algumas personagens da história mundial são desconhecidas até mesmo pelo seus conacionais. No caso de Indira Gandhi provoca, surpreendentemente, fora da Índia até a impressão de que tem algum parentesco com Mahatma Gandhi(*). Os pensamentos de Indira sempre se alinharam com as ideias de liberdade do povo indiano. Por outro lado, sua chegada ao poder, notadamente pela condição de ser mulher, tem capítulos instigantes e inspiradores. Contudo, é preciso refletir sobre o significado de cada palavra dentro de cada contexto. Enfim, a personagem fez história na Índia, e nem sempre foi com boas ações para seu próprio povo.

Indira Priyadarshini Gandhi ( Indira Nehru; 19 de novembro de 1917 – 31 de outubro de 1984) foi uma política e estadista indiana que foi primeira-ministra da Índia de 1966 a 1977 e novamente de 1980 até seu assassinato em 1984. Ela foi a primeira e, até o momento, única primeira-ministra mulher da Índia, e uma figura central na política indiana como líder do Congresso Nacional Indiano (INC). Ela era filha de Jawaharlal Nehru, um primeiro primeiro-ministro da Índia, e mãe de Rajiv Gandhi, que a sucedeu no cargo como o sexto primeiro-ministro do país. O mandato cumulativo de Gandhi de 15 anos e 350 dias faz dela a segunda primeira-ministra indiana mais antiga depois de seu pai. Henry Kissinger a descreveu como uma “Dama de Ferro”, um apelido que se tornou associado à sua personalidade dura. Como primeira-ministra, Gandhi era conhecida por sua intransigência política e centralização de poder sem precedentes.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Competição

Alguns termos e palavras exigem que , em primeiro lugar, contextualizemos e façamos uma reflexão sobre sua aplicabilidade. Desse modo, a competição a que se refere Indira Gandhi encaixa-se nesta premissa simples. Por isso, a raiz da palavra tem muita importância para o pensamento de Indira. Certamente, muitos tomam estas frases isoladamente e apresentam interpretações que, nem sempre, têm sentido. 

A acepção que adotamos é que competição é o ato de competir, uma luta ou em outras palavras, algo que demonstre uma rivalidade. Infelizmente, o mundo e sobretudo a sociedade moderna adotaram a competição como forma de uma pessoa se sobrepor a outra. Como se não bastasse, os mais poderosos “terceirizam” a competição de forma cruel e inescrupulosa. 

Por exemplo, uma empresa A tem como rival a empresa B. Não basta para a empresa A ter estratégias e superar a empresa B. O que se vê é uma competição interna com pessoas de uma mesma empresa brigando para superar aqueles com os quais deveriam se aliar. 

No caso dos pensamentos de Indira Gandhi devemos ter cuidados especiais na interpretação e aplicação. Este texto utiliza a frase dela para tentar mostrar o tamanho do buraco que a competição nos colocou. Inquestionavelmente, a origem etimológica de competição (do latim competitio + onis = competênciaexigência judicial) perdeu-se no tempo.

Competição e Colapso

É provável que a ideia de competição em algum momento da história tornou-se parte integrante da humanidade. Anteriormente, na época dos caçadores-coletores, este comportamento não deveria ser comum, pois a competição era instintiva pela sobrevivência. Desse modo, é quase impossível determinar quando este elemento comportamental passou a contribuir para o progresso ou para distorcer valores essenciais.

A origem do conceito nos remete a uma ideia mais colaborativa, de rivalidade saudável, onde o objetivo não era a destruição do oponente. No entanto, o significado contemporâneo de competição, associa-se a uma luta impiedosa pelo sucesso a qualquer custo.

Talvez Indira Gandhi, numa reflexão irônica, sugeriu que a divisão entre aqueles que trabalham e aqueles que recebem o crédito revela uma ética questionável. Assim sendo, ela aponta para um problema específico no mundo moderno. Em outras palavras, os méritos e a contribuição genuína sucumbem ao desejo de cada um de se mostrar como o vitorioso.

Esta “competição” moderna parece ter pouca relação com o espírito original do termo e mais com uma corrida individualista e egocêntrica(1). Infelizmente, a valorização e priorização do ganho pessoal, acima de tudo e de todos, inclusive passando por cima de outros humanos, é o novo “normal”.

O colapso da sociedade é visível, a competição desigual e injusta é somente uma das causas.

Competitividade saudável

Atualmente, a sociedade global, com a falácia da economia de mercado competitiva, reforça o cenário de uma corrida agressiva pelo sucesso. Em muitas esferas da vida, seja no trabalho, nas redes sociais ou nos relacionamentos, a concepção de competição original se perdeu. Como se não bastasse, promove contornos desumanizantes que as pessoas passaram a aceitar como ‘normais”. Enfim, as pessoas não competem mais para aprimorar suas habilidades, mas para provar seu valor em um mundo que exige sempre algo mais.

No ambiente corporativo, isso se reflete, por exemplo, em uma cultura de hipercompetitividade, os colaboradores não medem ações para “vencer”. As consequências desse comportamento são devastadoras. Podemos relacionar: a) esgotamento físico e mental, b) perda de senso de propósito; c) crescente desconfiança entre colegas; e d) relacionamentos perdidos.

Os indivíduos veem o outro como adversário, e não como aliado, transformando o espaço de trabalho em um campo de batalha. A colaboração, que antes era uma peça fundamental do crescimento coletivo, agora é efeito de estratégias da simples autopromoção.

O triunfo do crédito sobre o trabalho

No contexto da frase de Gandhi, os que tomam o crédito, mas não fazem o trabalho, tornam-se os “vencedores” da competição moderna. A banalização do esforço é evidente quando o reconhecimento surge não pelo mérito, mas por projetar uma imagem de sucesso. Essa inversão de valores é uma das razões pelas quais a competição perdeu seu sentido original e se tornou um jogo de aparências(2). O impacto disso é profundo: a sociedade passa a valorizar mais a aparência de competência do que a competência real.

Esse comportamento se alastra em diversas áreas da vida. Nas redes sociais, a busca por visibilidade é mais importante do que a proteção. As pessoas constroem identidades, inclusive falsas, para conquistar seguidores, influência e reputação, ignorando até os relacionamentos genuínos. A competitividade aqui não está em melhorar o mundo ao redor, mas em mostrar-se melhor do que os outros, mesmo que com falsidades ou superficialidade.

Descompasso

Essa competição insana expõe uma faceta preocupante da humanidade. O desejo de “vencer” e de “se destacar” acima de tudo revela uma desconexão crescente com valores como a solidariedade e o propósito coletivo. O que Indira talvez tenha pensado de forma sutil é uma perda de sentido ao redor da ideia de competição e crescimento. Em outras palavras, o que antes era uma busca conjunta tornou-se uma corrida solitária e, muitas vezes, destrutiva. Sem dúvida, há pouca ou nenhuma consideração pelas pessoas que ficam para trás, nesse caminho sem escrúpulos para o topo. E, certamente, isso revela um aspecto sombrio da condição humana contemporânea e digital.

Se as competições tinham o saudável propósito de elevar todos os envolvidos, a versão moderna dessa disputa está noutro diapasão. As pessoas sacrificam seus princípios, sua saúde e seus relacionamentos para se adequarem a um ideal de sucesso fugaz e vazio. Em vez de se unirem para criar algo maior, as pessoas se veem presas em um ciclo de autoafirmação e hedonismo oco(3).

Em suma, a competição se transformou em uma busca mútua por excelência em uma corrida impiedosa pelo reconhecimento superficial. A frase de Indira Gandhi diz que o verdadeiro valor está em continuar fazendo o trabalho, mesmo que o crédito vá para outrem. Embora o sistema competitivo atual pareça uma distorção irrevogável, pode haver um fio de esperança em cooperações genuínas. Afinal, como a própria etimologia sugere, a verdadeira competição deve ser uma busca em comum — e não uma batalha que deixa feridos pelo caminho.

Menos competição e mais inteligência, certamente não fará mal a ninguém …

 

Amanhã tem mais …

P. S.

(*) Mahatma Gandhi era um pacifista e lutou pela independência da Índia e dos hindus. Indira teve sua imagem ao lado dele, mesmo que ele tenha feito grande parte do trabalho, certamente uma contradição da primeira-ministra.

(1)Entre Sem Bater – Carl Jung – Egocentrismo: A Epidemia

(2) “Entre Sem Bater – Epicteto – As Aparências

(3) “A Geração do Hedonismo Oco

 

Imagem: Entre sem Bater – Indira Gandhi – Menos Competição

Nota do Autor

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