Etarismo
É provável que o etarismo seja um dos maiores “ismos” do planeta (racismo e sexismo são predominantes). Nossa sociedade, imperfeita e com humanos hedonistas no comando, esquece que a idade de todos só aumenta. Ao contrário dos outros dois “ismos”, cuja motivação é a diferença, que pode ser definitiva, este preconceito sobre a idade, não tem explicação.
Certamente, se uma pessoa é de determinada raça, ela pratica o racismo contra aqueles/aquelas que não são da sua raça. Certamente, gente como o abjeto ex-presidente da Fundação Palmares é ponto fora da curva. Do mesmo modo, o sexismo tem sua prática, invariavelmente, feita por pessoas de sexo diferente daquele que sofre assédio.
Gerontofobia
Em primeiro lugar, é necessário diferenciar os seguintes termos: Etarismo, Ageísmo, Idadismo, Gerontofobia e Velhofobia.
Os “ismos” são um hábito, conduta ou característica, resultante de um conjunto de ideias. Certamente, têm relação com a característica de uma pessoa ou grupo de pessoas de forma negativa.
Assim sendo, a prática do etarismo, ageísmo/idadismo são uma forma de manifestação pejorativa de um ser humano para com outro ser humano. Contudo, é importante destacar que pode se manifestar nos jovens em relação aos mais velhos e vice-versa.
No caso do sufixo fobia, o sentido é de aversão patológica a determinada ideia ou coisa. Velhofobia e gerontofobia dizem respeito a um medo das pessoas de serem velhos ou de ficarem velhos. Em outras palavras, pessoas despreparadas para a vida que pensam que nunca vão ficar velhos.
Desse modo, acredito que este texto sirva para repórteres, jornalistas e até estudiosos terem mais cuidado com o uso das palavras.
“Ismo” x fobia
Surpreendentemente, vemos jornalistas e “influencers” de rede social misturando tudo, quando deveriam separar suas fobias e reconhecer seus “ismos”. Sim, as pessoas, no geral, não conseguem separar seus medos de seus preconceitos e no caso do etarismo fica muito pior.
Sendo assim, o etarismo é a maior violência que se pratica contra um ser humano. Não importa a idade, quem pratica o etarismo desconhece que ele tem ou vai ter a idade que ele se coloca contra.
Em tempos de pandemia, o etarismo ficou escancarado e recrudesceu de forma inimaginável. É provável que a “velhofobia” também tenha saído do armário pelos efeitos causados pela doença que matou os mais velhos.
Portanto, que fique bem claro não se tratam de coisas iguais, “ismo” e “fobia” são diferentes e ambas são atitudes deploráveis.
Conflito de Gerações
O preconceito quanto à idade dos profissionais ( etarismo) é, inquestionavelmente, um dos maiores problemas das empresas e organizações. Além de prejudicar diretamente aos profissionais, pode colocar empresas em situação de desvantagem diante da concorrência.
Empresas que perdem seus funcionários experientes podem levar muito tempo para capacitar substitutos, a um custo muito superior àquele da manutenção do funcionário. Como se não bastasse, o etarismo é um dos motivos da exclusão de bons candidatos em processos seletivos. Mais do que perverso, algumas atitudes e comentários de recrutadores são o retrato da baixa qualidade de profissionais poucos experientes e sectários.
As organizações estão, de fato, negligenciando e menosprezando a experiência e conhecimento, a favor da modernidade e destreza de seus “colaboradores”.
Em redes sociais, tenho feito a constatação, comigo e com outros, que muitos jovens, não conseguindo argumentos, falam da idade da pessoa. Isso, com efeito, significa que tiveram péssima educação e o mau caráter adquirido não tem solução nas redes sociais.
Demissões
Enquanto organizações buscam se livrar de idosos e aposentados que continuam em atividade, buscam contratar jovens por menores salários. Assim sendo, a contratação de pessoas de faixa etária elevada sofrem discriminação.
Por outro lado, as organizações que mantêm pessoas idosas são opositores dos mais jovens, pelo fato de temerem perder o emprego.
As demissões desenfreadas, os preconceitos nas contratações têm mostrado a face cruel de um “ismo” que saiu do armário.
Os praticantes do etarismo ficaram à vontade.
Futuro
Os etaristas ficaram à vontade. Desde que recrutadores e redes sociais como o LinkedIn e outras fazem uma defesa velada e criminosa disso. O futuro não é promissor quando o debate fica disperso e a própria mídia não diferencia etarismo da velhofobia.
Este texto teve atualização em função de evento recente em que três alunas de um curso no interior de São Paulo praticaram o etarismo. As moçoilas ( brancas e da classe média ) foram às redes sociais para zombar de uma colega de sala de 44 anos(1). Eu, por exemplo, iniciei quatro cursos superiores e somente fui concluir uma graduação com idade bem superior aos demais da minha turma.
Este caso serve para mostrar que a hipocrisia venceu. Já escrevi sobre a questão do conflito de gerações, que caracteriza o etarismo, ao contrário da “velhofobia” que a mídia propaga.
Em suma, não temos nenhum futuro enquanto não separarmos a fobia do “ismo”. O conflito de gerações vai permanecer e a competição em todas as áreas, e não somente no setor profissional, fica pior. Com toda a certeza, tudo começa em casa e no descontrole entre as gerações e as unidades familiares.
Nós, os “Perennial Gen – a verdadeira geração raiz“, somos poucos e velhos, e como se não bastasse, infelizmente, perdemos !
(1) “Universitária de 44 anos, ridicularizada por jovens, recebe flores de veteranos“.
(*) Revisado e atualizado em março de 2023
Imagem: Milton Rodrigues Alves
Nota do Autor
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