Entre sem bater – Bertolt Brecht – Cadela no Cio

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Bertolt Brecht foi, certamente, um crítico feroz, e sua arte permitia analogias, como “Cadela no Cio“, extraordinárias.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Bertolt Brecht

Este dramaturgo e poeta estará presente inúmeras vezes aqui nesta trilha. Decerto, ele mereceria uma trilha especial, mas feita por estudiosos de seus trabalhos, o que eu não sou. Entretanto, suas frases, desde as mais comuns, terão destaque neste minifúndio digital.

Eugen Berthold Friedrich Brecht (10 de fevereiro de 1898 – 14 de agosto de 1956), era conhecido profissionalmente como Bertolt Brecht. Foi um praticante de teatro, dramaturgo e poeta alemão, chegando à maioridade durante a República de Weimar. Ele teve seus primeiros sucessos como dramaturgo em Munique e mudou-se para Berlim em 1924. Em Berlim, escreveu “The Threepenny Opera” com Kurt Weill e iniciou uma colaboração ao longo da vida com o compositor Hanns Eisler.. Imerso no pensamento marxista durante esse período, ele escreveu Lehrstücke didático e tornou-se um teórico do teatro épico. Posteriormente, ele preferiu chamar de “teatro dialético“) e manteve o movimento Verfremdungseffekt. Durante o período da Alemanha Nazista, Brecht fugiu de seu país natal, primeiro para a Escandinávia. Durante a Segunda Guerra Mundial foi para os Estados Unidos, onde foi vigiado pelo FBI. Retornando a Berlim Oriental após a guerra, ele fundou a companhia de teatro Berliner Ensemble com sua esposa e colaboradora de longa data, a atriz Helene Weigel.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Cadela no Cio

O propósito desta frase de Brecht, neste momento, é a fase que vivemos no Brasil.

Surpreendentemente, as pessoas comemoram, nas redes sociais, verdadeiras “Vitórias de Pirro“⁽¹⁾. Em outras palavras, basta alguém postar alguma coisa agradável, ou que muitos mostram concordância, a comemoração é imediata. Por exemplo, o torcedor de um time de futebol vê seu time conseguir uma liminar na justiça e lá vem compartilhamento e comemoração. Desse modo, a briga política no Brasil que se polarizou na última década, está repleta destas vitórias pueris e efêmeras.

Quando Brecht escreveu a frase, durante a Segunda Grande Guerra, em The Resistible Rise of Arturo Ui (1941), estava alertando a todos. Uma cadela no cio pode parir muitas crias, a maioria igual às que pariu anteriormente.

Vejo muitos brasileiros, de parte a parte, inebriados por vitórias efêmeras em tribunais de exceção, e se decepcionar após verem o final.  Analogamente, às crias nefastas e abomináveis que vimos crescer, presenciamos processos idênticos aos erros que cometemos pouco tempo atrás.

Ovo da Serpente

Inquestionavelmente, algumas metáforas e analogias nunca foram tão impróprias para uma democracia e as vemos, atualmente, no Brasil.

O “Ovo da Serpente” é uma destas analogias que alinha-se perfeitamente àquela da cadela no cio. Certamente, nenhuma destas analogias deveriam ter utilização para explicar a complexidade política de um país. O que temos visto é vídeos rasteiros e pueris ganhando mais audiência do que qualquer vídeo que tente o debate sobre temas do cotidiano.

Por exemplo, um jogador de futebol famoso, com mais seguidores do que eleitores com menos de 21 anos, pode publicar qualquer coisa. Desde que ele publique, terá compartilhadores e curtidores que lhe darão muito dinheiro. O conteúdo dele pode ser uma infração ou até mesmo um crime ambiental, será um sucesso de público.

E os críticos? Sofrerão perseguição, acusações das mais diversas formas e conteúdos, sem piedade, por hordas de teleguiados.

O ataque mais comum é dizerem que os críticos são invejosos, mas não se prestam nem a entender a crítica.

Inelegibilidade

A temática do momento é a possibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro ficar inelegível por ação do PDT, no Tribunal Superior Eleitoral. As comemorações de muitos perfis nas redes sociais e o estardalhaço da mídia pelo julgamento são insanas. É provável que a maioria destas pessoas não se dê conta que pode ser isso que a serpente quer. Ou, por outro lado, pode ser isso que a cadela das oligarquias esteja planejando. A condenação eleitoral dele e a liberdade para ir e vir, em campanhas desde agora, ajudarão seus alcaides e edis de estimação.

O ex-presidente, assim como muitos outros, são somente crias que sofreram adestramento e podem sofrer descarte. A cadela está viva e procriando novos filhotes. Desse modo, engana-se quem pensa que a condenação pelo TSE, que pode ter recurso ao STF, interrompe o cio ou a cadela de parir.

Embora boa parte do país levantou-se contra a cadela que produz fascistas e genocidas, as crias estão por aí, proliferando e vociferando. Se bem que algumas nem são crias mais, cresceram e estão no comando de estados importantes como São Paulo e Minas Gerais. Em menor escala, podemos citar Santa Catarina e outros estados com seus déspotas que vão estragar a eleição de 2024.

A cadela está no cio, não se alegrem e sejam mais capazes de ver que o risco não vai acabar com uma condenação eleitoral. As redes sociais adoram financiar gente falaciosa e que diz o que estes perfis querem ouvir.

A luta contra estas cadelas no cio e suas crias nem começou.

P. S.

O “Analfabeto Político” é, com toda a certeza, o texto de Brecht que provoca enorme aversão a todos déspotas e tiranos. Contudo, sua obra vai muito além do que o texto em questão.

⁽¹⁾ “Pirro e as vitórias contemporâneas”

⁽²⁾ “Ovo da serpente tupiniquim”

 

Imagem: Entre sem bater – Bertolt Brecht – Cadela no Cio

Nota do Autor