Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É provável que a ideia de um “Governante Perfeito” seja um pensamento que passou somente pela cabeça de Platão.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Platão (Platón – Plato)
Platão, e seus diálogos, poderia baixar aqui no Brasil e explicar para muitos brasileiros o que significa um estadista. É provável que ele teria que falar, escrever e desenhar com legendas. As experiências ruins dos brasileiros não estão servindo nem para aprimorar a busca por governante perfeito.
Platão ( Atenas 428/427 a.C. – Atenas, 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga. Autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Ele é amplamente considerado a figura central na história do grego antigo e da filosofia ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Recebe atribuição como um dos fundadores da religião ocidental, da ciência e da espiritualidade. Influenciou Santo Agostinho e, portanto, o cristianismo, bem como a filosofia árabe e judaica. Platão era um racionalista, realista, idealista e dualista. Foi o inovador do diálogo escrito e das formas dialéticas da filosofia. Platão também contribuiu para a fundação da filosofia política ocidental. Sua mais famosa contribuição leva seu nome, platonismo, contudo alguns alegam que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles.
Fonte: Wikipedia (Português)
Governante Perfeito
Em sua obra “Politicus” ou, numa livre tradução, “O Estadista”, Platão trava um diálogo com outros filósofos. É provável que eles queriam chegar a uma definição de estadista ou governante perfeito. Os tempos são outros, mas os desejos das pessoas continuam sendo os mesmos. Contudo, o que poucos fazem é perceber o diálogo como uma forma de ironizar a arte de governar ou estar sob algum governo. Desse modo, o momento do diálogo e as condições que o pensamento, podem ter uma reprodução nos dias atuais. Por exemplo, os últimos anos e as últimas semanas no Brasil deveriam servir para todos os cidadãos-eleitores evoluírem.
Assim sendo, urge termos a compreensão da frase-chave de Platão, que ressoa poderosamente com os desafios políticos atuais. Certamente, suas palavras ecoam através dos séculos, numa verdade atemporal que se infiltra na política do nosso Estado.
A frase deveria acender uma chama de inquietação em cada cidadão-eleitor. Portanto, deveria existir um forte questionamento sobre a busca incessante da população por um líder perfeito. Surpreendentemente, muitos buscam a perfeição em “mitos” e “lendas“, e nunca encontrarão ninguém que seja um governante perfeito.
Rei morto, rei posto
Hoje, quando a política se tornou uma arena de poder, vemos a ascensão de líderes que se encaixam perfeitamente nos perfis da ideia de Platão. A despeito da morte da Rainha Elizabeth II ser uma realidade, e um sucessor estar no poder, a realeza britânica(1) é uma aberração. Desta forma, tiranos e déspotas se revezam com poucas democracias representativas.
Surge o tirano, um ser implacável, sedento por controle absoluto. Ele se apresenta como um salvador, prometendo proteção e prosperidade. Entretanto, suas ações revelam uma crueldade que mergulha a nação em um pesadelo, como vimos no Brasil durante a pandemia. A tirania é o resultado de uma busca desenfreada pelo poder, alimentada pela desconfiança e pelo medo. Os homens clamam por um líder forte, mas quando esse líder se torna um monstro, eles buscam outra alternativa. Por outro lado, existem aqueles que insistem na manutenção do tirano, pois ele os representa melhor.
Todavia, assim que um rei assume, como no caso britânico, apresenta-se uma ordem e estabilidades de um governante perfeito. Se bem que a ideia de uma figura de autoridade que detém o poder supremo não existe nas monarquias parlamentaristas. No entanto, a dinastia do rei, com muitos privilégios aparenta ser justa e de acordo com a vontade do povo. De fato, a monarquia pode trazer uma sensação de segurança temporária. Sem dúvida, essa ilusão se desfaz à medida que a consciência política acorda para a realidade.
Democracia ?
As oligarquias, quando o poder está nas mãos de uma elite, seguem seu reinado, como no Brasil, desde 1808(2). Essa elite econômica manipula o jogo político, garantindo que suas vozes sejam as únicas no comando. Em outras palavras, seus interesses são prioridade absoluta, enquanto a manipulação de massas segue firme. A desigualdade cresce, a pobreza se aprofunda e a esperança se esvai. A oligarquia é um sistema projetado para perpetuar a desigualdade(3) e a exploração, ignorando a verdadeira essência da democracia.
E, inegavelmente, é nesse ponto que Platão nos confronta com a aristocracia, uma forma de governo na qual os “mais sábios e virtuosos” governam. A aristocracia, em sua concepção ideal, deveria ser um modelo de governança baseado na sabedoria e no bem comum. No entanto, na prática, aristocracia ou qualquer outra forma de governo despótica, é um sistema de nepotismo e favorecimentos. O poder concentra-se nas mãos de castas ou máfia, que não aceitam intrusos. Na maioria das formas de governo, um governante perfeito é uma quimera inalcançável que continua a provocar a inquietude da população.
Democracia perfeita
Em suma, na teoria, a democracia, na ideia dos pensadores, era para ser um sistema de governo pelo povo e para o povo. Desse modo, todas as Constituições que se dizem democráticas repetem isso de “poder do povo”. Entretanto, fica só no papel pois as leis e regulamentos cuidam de separar os desiguais.
A democracia, em sua essência, é uma luta constante pela liberdade e pela igualdade. No entanto, mesmo a democracia pode ter desvios e sofrer corrosão pelos vícios humanos e desejos egocêntricos.
A busca por poder e a manipulação dos sentimentos populares transformam a democracia em um jogo de interesses e um teatro de promessas vazias. A liberdade de expressão tem interpretações errôneas, as instituições e as divisões sociais podem ameaçar o sentido de nação.
Destino Comum
Segundo Montesquieu, o sentido de nação é claro…
“Nação é o povo com a consciência, a convicção do destino comum. A comunhão de interesses, que se estabeleceu nela, gera a convicção do destino comum e engendra entre os conacionais uma SOLIDARIEDADE insubstituível, uma lealdade no servir inviável fora da Nação.“
Nessa confusão entre as formas de governo e seus estadistas, fica claro que os homens não se contentam com qualquer governante. A busca por uma liderança ideal é inerente à natureza humana, entretanto precisamos reconhecer que a perfeição política inexiste. Devemos aprender com os erros do passado e buscar algum tipo de equilíbrio. Desse modo, seja numa eleição para vereador ou numa eleição presidencial, é preciso muita reflexão pensar-agir. Com toda a certeza, devemos cultivar as virtudes em nossos líderes em prol da maioria e do coletivo. Assim sendo, o governante perfeito deve promover a transparência e a participação cidadã. Portanto, é necessário estarmos vigilantes contra as ameaças à democracia e que a história recente do Brasil não tenha repetição.
Em suma, a frase-chave de Platão é um convite para uma profunda reflexão sobre a natureza humana e a política, no Brasil atual. Ela nos lembra que a busca pelo governante perfeito é uma ilusão perigosa que nos leva a repetir os erros anteriores. A compreensão de que nenhum líder tem a perfeição, possibilitará a construção de instituições com solidez perene. O poder da sociedade civil deve ter a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões políticas. A participação do cidadão somente nas eleições e/ou através de redes sociais não é nenhum sinal de evolução.
Desse modo, somente após a conscientização política, poderemos vislumbrar uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática.
Platão agradece ! #MAKTUB
(1) “Realeza – Era uma vez…”
(2) “200 anos sem Dom João VI.”
(3) “Entre sem bater – Tony Judt – A Desigualdade.”
P. S.
O classificador de textos (AI Text Classifier – ChatGPT) considera o texto muito improvável de sua geração ser por IA.
Imagem: Entre sem bater – Platão – Governo Perfeito
Nota do Autor
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